quarta-feira, 21 de abril de 2010

A natureza do Dzogchen

A natureza do Dzogchen ou Grande Perfeição talvez seja mais bem compreendida como a essência de toda a aspiração mística não-dual. No contexto tibetano ela está no cerne do xamanismo, do Bon e do Budismo. Suas referências linguísticas e culturais foram tomadas do Bon e do Budismo, e por isso ela pode parecer limitada a essas tradições, mas enxergar sua realidade existencial como restrita a esse quadro cultural contradiria os preceitos tibetanos que a definem como totalmente não específica e não confinada. Historicamente, o budismo forneceu a base da qual surgiram os preceitos da Grande Perfeição e certamente ainda oferece um campo de referência muito rico e deslumbrante, em termos metafísicos.

Porém, os princípios do Dzogchen originário são apropriados de acordo com cada contexto cultural e religioso. Todo o contexto religioso e cultural é transcendido por sua essência sem forma. Hoje o Dzogchen engloba ciência e humanismo do mesmo modo que no passado incorporava o xamanismo e o teísmo. Ele ultrapassa a religião por omitir o dogma e a doutrina. Supera a yoga e a meditação porque repudia a técnica. Ele transcende a criatividade da mente humana - seja como ciência ou arte - através da identidade com a nossa natureza intrínseca. Inclusão é o que define a grande perfeição.

Quanto ao esforço místico, concebe-se que a busca da perfeição natural é tão extensa como a história humana. Certamente isso está oculto nos mistérios da Babilônia, Egito, Grécia e Roma, nos Tantras indianos, no Tao chinês, no sufismo muçulmano, na Torá judaica, na heresia dos cristãos albigenses, cavaleiros templários e alquimistas, mesmo porque a perfeição natural é inerente ao ser humano e não se pode suprimi-la. Privada de uma tradição linear, guias e preceitos, a busca da perfeição natural pode surgir de modo espontâneo como um imperativo do espírito humano, como ocorreu na Europa e na América nos anos sessenta. Independentemente do contexto cultural e religioso, do tempo e do lugar, o "caminho sem caminho" da iluminação não dual é sempre o mesmo porque a natureza da mente é una, sendo ela a origem do tempo e do espaço. Acontece, porém, que no século XXI, os modelos e depositários dessa tradição viva são os budistas vajrayana do planalto tibetano. O misticismo não dual encontra o seu fundamento em todo o âmbito do budismo tibetano, especialmente na tradição Mahamudra Kagyu. Porém, é na sua primeira transmissão no Tibet, na época em que a tradição dos Antigos (Nyingmapa) ainda estava em sua fase incipiente, que encontramos a declaração mais pura e inequívoca dos princípios e a efusão poética do significado da Grande Perfeição. Esse é o chamado Dzogchen radical.

Tendo em conta que o mais velho e mais antigo não é necessariamente o melhor, nem qualquer garantia de qualidade - apesar das crenças dos criacionistas - a qualidade de puro frescor, no entanto, reverbera ao longo dos séculos de uma cultura à beira da ruptura. Essa qualidade pode ser percebida no Tibet do século oito e em particular na obra do poeta e místico Vairotsana que naquela época escreveu os cinco poemas apresentados neste livro. [...] A palavra do Dzogchen chegou para iluminar a escuridão do xamanismo espiritualista, para esclarecer as opções budistas apresentadas pela Índia, China, Khotan, Brusha e Oddiyana e exaltar os estilos de vida do povo do planalto tibetano. O frescor e vitalidade da obra de Vairotsana, escrita quando a língua tibetana era tão jovem quanto a língua inglesa na época em que Shakespeare escrevia, ainda tem o poder de iluminar, apesar das sombras provocadas pelo apocalipse do materialismo e consumismo. [continua]

DOWMAN, Keith. Radical Dzogchen / Eye of the Storm - Vairotsana's Five Original Transmissions, p. xi-xii, Vajra Publications, Kathmandu, Nepal, 2006. Tradução Roberto Carlos de Paula.


"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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