H.P.B. estava especialmente interessada sobre o assunto A Doutrina Secreta no decorrer da última semana. Julguei melhor organizar este material e escrevê-lo, por segurança, enquanto o tenho vivido na mente. Como ela mesma disse, ele pode vir a ser útil para alguém dentro de trinta ou quarenta anos.
Em primeiro lugar, A Doutrina Secreta é apenas um fragmento bastante pequeno da Doutrina Esotérica conhecida pelos membros mais elevados das Fraternidades Ocultas. Ela contém, diz H.P.B., apenas o tanto que o Mundo pode receber durante o próximo século. Esta afirmação levantou uma questão que ela respondeu da seguinte forma: "O Mundo" significa o Homem vivendo na Natureza Pessoal. Este "Mundo" encontrará nos dois volumes da D.S. tudo aquilo que sua máxima compreensão pode assimilar, nada mais.
Isto não significa que o Discípulo, que não está vivendo "no Mundo", não possa encontrar no livro mais do que o "Mundo" encontra. Todas as formas, não importa o quão toscas sejam, contêm ocultas em si a imagem de seu "criador".
O mesmo acontece com uma obra que, mesmo obscura, contém oculta a imagem do conhecimento de seu autor. A partir desta afirmação eu concluí que a D.S. deve conter tudo o que H.P.B. sabe, e muito mais que isto, considerando que a maior parte da obra vem de homens cujo conhecimento é imensamente maior que o dela. Além disso, ela sugere de modo inconfundível que se pode muito bem encontrar no livro conhecimentos que ela própria não possuía.
É estimulante pensar na possibilidade de que eu mesmo possa encontrar nas palavras de H.P.B. algum conhecimento do qual ela não era consciente. Ela se demorou bastante nesta ideia. X disse mais tarde: "H.P.B. deve estar perdendo seu entendimento", querendo dizer, suponho, confiança em seu próprio conhecimento. Mas Y, Z e eu a entendemos melhor, segundo acredito. Ela está nos dizendo, sem dúvida, para não nos prendermos a ela ou a qualquer pessoa como autoridade final, mas para dependermos somente de nossas percepções cada vez mais abrangentes.
[Nota acrescentada posteriormente sobre o que foi escrito acima: Eu estava certo. Apresentei diretamente a ela minhas opiniões, ao que ela aprovou sorrindo. É uma grande coisa conseguir seu sorriso aprovador! - (ass.) Robert Bowen.]
Finalmente conseguimos que H.P.B. nos indicasse o caminho correto no que concerne ao estudo da D.S.. Trato de colocar por escrito enquanto tudo está claro em minha memória. Ler a D.S. página após página como se faz com qualquer outro livro (ela observa) apenas levará à confusão. A primeira coisa a fazer, mesmo que leve anos, é alcançar alguma compreensão dos "Três Princípios Fundamentais", dados no Proêmio. Segue-se com o estudo da Recapitulação - os itens numerados no Resumo do Vol. I (Parte I). Passa-se então para as Notas Preliminares e Conclusão no Vol. II.*
*vol. 111 e IV na edição da Pensamento (N.E.)
H.P.B. parece estar bastante segura sobre a importância do ensinamento (na Conclusão) relativo às épocas de aparecimento das Raças e Sub-Raças. Ela explicou, de modo mais direto do que costuma fazer, que não existe coisa tal como o "nascimento" futuro de uma raça. "Não existem nem NASCIMENTO nem PASSAGEM, mas um eterno VIR-A-SER" ela diz. A Quarta Raça Raiz ainda está viva, como também a Terceira, Segunda e Primeira - isto é, suas manifestações estão presentes em nosso atual plano de substância. Eu sei o que ela quer dizer, mas está acima de minhas capacidades colocá-lo em palavras. Da mesma forma a Sexta Sub-Raça está aqui, bem como a Sexta Raça Raiz, a Sétima, e mesmo pessoas das Rondas vindouras. Isto é compreensível. Discípulos, Irmãos e Adeptos não podem ser pessoas comuns da Quinta Sub-Raça, pois a raça é um estado de evolução.
Mas ela não deixa qualquer dúvida, no que diz respeito à humanidade em geral, de que estamos a centenas de anos (no tempo e no espaço) até mesmo da Sexta Sub-Raça. Penso que H.P.B. demonstrou peculiar ansiedade em sua insistência sobre este ponto. Ela insinuou sobre "perigos e enganos" que surgem com a ideia de que a Nova Raça já despertou definitivamente no Mundo. Segundo ela, a duração de uma Sub-Raça para a humanidade em geral coincide com o Ano Sideral (a precessão do eixo da terra - em torno de 25.000 anos). Isto situa a nova raça em período ainda muito afastado.
Temos tido sessões excepcionais sobre o estudo da D.S. durante as últimas três semanas. Devo organizar minhas notas e registrar os resultados com segurança antes que os perca.
H.P.B. falou bastante sobre os "PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS". Disse que: “se alguém imagina que vai obter da D.S. um quadro satisfatório da constituição do Universo, esta pessoa somente chegará à confusão em seus estudos. Esta obra não está destinada a dar um veredicto final sobre a existência, mas CONDUZIR EM DIREÇÃO À VERDADE”. Ela repetiu esta expressão muitas vezes.
É mais do que inútil procurarmos aqueles que imaginamos serem estudantes avançados (disse ela) e pedir que nos dêem uma "interpretação" da D.S.. Eles não podem fazer isto, e se o tentarem tudo o que poderão dar serão traduções exotéricas fragmentadas e disformes que nem de longe se assemelham à VERDADE. Aceitar tais interpretações significa nos prendermos a ideias fixas, enquanto a VERDADE está além de qualquer ideia que possamos formular ou expressar. Interpretações exotéricas podem ser úteis e ela não as condenava, enquanto vistas como indicadores de caminho para os iniciantes, e não aceitas por eles como possuindo qualquer valor a mais. Muitas pessoas que estão na Sociedade Teosófica, e muitas ainda que estarão, no futuro, são potencialmente incapazes de qualquer progresso que ultrapasse o alcance de uma concepção exotérica. Mas existem alguns, e haverão outros, capazes de um alcance mais profundo, e para eles ela mostra o seguinte e verdadeiro caminho de abordagem da D.S..
Venha para a D.S. (ela diz) sem qualquer esperança de nela conseguir a VERDADE final sobre a existência, e sem qual¬quer outra ideia além de descobrir o quanto ela pode conduzi-los EM DIREÇÃO à Verdade. Veja no estudo um meio de exercitar e desenvolver a mente nunca antes tocada por outros estudos. Observe as seguintes regras: não importa o que se estude na D.S., a mente deve manter com firmeza, como base de sua ideação, as seguintes ideias:
(a) A UNIDADE FUNDAMENTAL DE TODA EXISTÊNCIA. Essa unidade é algo completamente diferente da noção comum de unidade - como quando dizemos que uma nação ou um exército está unido, ou que este planeta está unido a outro por linhas de força magnética, ou algo semelhante. O ensinamento não é esse, e sim o de que a existência é UMA COISA, não uma coleção de coisas colocadas juntas. Fundamentalmente existe UM SER, que possui dois aspectos: positivo e negativo. O positivo é o Espírito, ou CONSCIÊNCIA; o negativo é SUBSTÂNCIA, o assunto da consciência. Esse Ser é o Absoluto em sua manifestação primária. Sendo Absoluto, nada existe fora dele. É TODO-SER. É indivisível, pois de outro modo não seria absoluto. Se fosse possível separar-lhe uma parte, o restante não poderia ser absoluto, pois surgiria imediatamente a questão da COMPARAÇÃO entre ele e a parte separada, e a Comparação é incompatível com a ideia do absoluto. Consequentemente, é evidente que essa EXISTÊNCIA UNA ou SER ABSOLUTO deve ser a REALIDADE existente em cada forma que existe... (Eu disse que, embora isso estivesse claro para mim, não acreditava que muitos membros das Lojas o compreendessem. "A Teosofia - respondeu H.P.B. - é para aqueles que podem pensar, ou que podem ser levados por si próprios a pensar, e não para preguiçosos mentais." Ela tem se mostrado branda ultimamente; antes costumava chamar o estudante médio de "cérebro lento"*.)
* Dumskulls, em inglês. (N.T.)
O Átomo, o Homem, o Deus (ela diz) são, separadamente ou em conjunto, o Ser Absoluto em última análise; esta é a sua INDIVIDUALIDADE REAL. Este é o conceito que se deve manter sempre no fundo da mente para servir de base para toda concepção que surgir do estudo da D.S.. No momento em que esquecemos disso (o que é fácil acontecer quando estamos envolvidos com um dos muitos aspectos intrincados da Filosofia Esotérica), sobrevém a ideia da SEPARAÇÃO e o estudo perde seu valor.
(b) A segunda ideia a manter com firmeza é a de que NÃO EXISTE MATÉRIA MORTA. Todo átomo final é vivo. E não poderia ser de outra forma, pois cada átomo é fundamentalmente por si mesmo o Ser Absoluto. Por isso não existe coisa tal como "espaços de Éter” ou Akasha, ou chame como quiser, no qual os anjos e os elementais se divertem como trutas na água. Isso é o que se pensa usualmente. O verdadeiro conceito é o de que cada átomo de substância, não importa de que plano, é ele mesmo uma VIDA.
(c) A terceira ideia básica a ser mantida é a de que o HOMEM É O MICROCOSMO. E ele sendo assim, todas as Hierarquias dos Céus existem nele. Mas em verdade não existe nem Macrocosmo nem Microcosmo, mas UMA EXISTÊNCIA. O grande e o pequeno só existem como tais quando vistos por uma consciência limitada.
(d) A quarta e última idéia é aquela expressa no Grande Axioma Hermético que, na verdade, resume e sintetiza todos os outros. “Como o Interno, assim é o Externo; como o Grande, assim é o Pequeno; como é acima, assim é abaixo, só existe UMA VIDA E UMA LEI e aquele que atua é o UM. Nada é Interno, nada é Externo; nada é Grande, nada é Pequeno; nada é Alto, nada é Baixo na Economia Divina.” Deve-se buscar relacionar com essas idéias básicas qualquer coisa que se estude na D.S..
Sugeri que este tipo de exercício mental deve ser extremamente fatigante. H.P.B. sorriu e acenou concordando. Não se deve ser tolo (ela disse) e terminar em um hospício por tentar conseguir demais a princípio. O cérebro é o instrumento da consciência de vigília, e cada quadro mental consciente formado significa mudança e destruição de seus átomos. A atividade intelectual comum segue por caminhos bem traçados do cérebro e não força repentinos ajustes e destruições em sua substância. Mas este novo tipo de atividade mental exige algo muito diferente - o traçar de novos “caminhos no cérebro", o estabelecimento de uma ordem diferente para as pequenas vidas do cérebro. Se forçado de forma insensata, isto pode trazer sérios danos físicos ao cérebro.
Este modo de pensar (ela diz) é o que os indianos chamam de Jnâna Yoga. Na medida em que a pessoa progride em Jnâna Yoga, percebe o surgimento de conceitos que ela, embora consciente deles, não pode expressar e nem formular ainda em nenhum tipo de representação mental. Com o passar do tempo estes conceitos se transformam em quadros mentais claros. Nesta hora deve-se estar em guarda e recusar ser enganado pela idéia de que o maravilhoso quadro recém-encontrado representa a realidade. Porque não representa. Com o prosseguimento do trabalho se descobre que o quadro antes tão admirado se torna tosco e insatisfatório, até que finalmente desaparece ou é descartado. Este é outro ponto de perigo, pois a pessoa se encontra momentaneamente em um vazio, sem qualquer conceito em que se apoiar, e pode ser tentada a reavivar a representação anteriormente desprezada, por falta de uma melhor em que se apoiar. O verdadeiro estudante no entanto continuará a trabalhar despreocupado e logo outros vislumbres surgirão, os quais, por sua vez, darão lugar a uma representação mais ampla e mais bela que a última. Mas agora ele compreenderá que nenhum quadro pode jamais representar a VERDADE. Este último se tornará tosco e desaparecerá como os outros, e assim o processo continuará até que finalmente a mente e suas representações sejam transcendidos e o estudante entre e permaneça no Mundo da NÃO-FORMA, do qual todas as formas são pálidos reflexos.
O Verdadeiro Estudante de A Doutrina Secreta é um Jnâna Yogi, e esta Senda da Yoga é a Verdadeira Senda para o estudante Ocidental. A Doutrina Secreta foi escrita para fornecer as indicações de caminho desta Senda.
Nota posterior: Li para H.P.B. esta interpretação de seus ensinamentos, perguntando se eu a compreendera corretamente. Ela me chamou de um tolo cérebro lento, por imaginar que pudesse colocar qualquer coisa de forma correta em palavras. Mas depois sorriu e acenou afirmativamente com a cabeça dizendo que eu o havia conseguido melhor do que qualquer outra pessoa, e até mesmo melhor do que ela poderia ter feito.
Pergunto-me sobre o porquê de estar fazendo tudo isto. Este ensinamento deveria ser transmitido para o público em geral, mas estou velho demais para fazê-lo. Sinto-me como uma criança em relação a H.P.B., ainda que seja vinte anos mais velho.
Ela mudou muito desde que a encontrei há dois anos. É maravilhoso ver como ela se mantêm firme face ao grave estado de saúde. Mesmo se uma pessoa não soubesse e nem acreditasse em nada, H.P.B. a convenceria de que é algo além de corpo e cérebro. Durante estas últimas reuniões, desde que ela ficou tão doente, sinto que estamos recebendo ensinamentos de uma outra esfera mais elevada. Parece que sentimos e sabemos o que ela diz, ao invés de a escutarmos com nossos ouvidos físicos. X disse a mesma coisa na última noite.
(ass.) Robert Bowen
Com. Royal Navy 19 de Abril de 1891.
[Extratos das notas de ensinos pessoais dados por H.P.B. a estudantes privativos durante os anos de 1888 a 1891, incluídos num volume manuscrito maior deixado para mim por meu pai, que era um dos estudantes. P.G. Bowen] Esses extratos das notas do Sr. P.G. Bowen foram tirados de The Theosophical Forum, agosto, 1932 – os Editores.
Texto selecionado pelos irmãos Eliane Zaranza e Márcio Douglas para estudo em Loja realizado em 3 de abril de 2012.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
[Nota acrescentada posteriormente sobre o que foi escrito acima: Eu estava certo. Apresentei diretamente a ela minhas opiniões, ao que ela aprovou sorrindo. É uma grande coisa conseguir seu sorriso aprovador! - (ass.) Robert Bowen.]
Finalmente conseguimos que H.P.B. nos indicasse o caminho correto no que concerne ao estudo da D.S.. Trato de colocar por escrito enquanto tudo está claro em minha memória. Ler a D.S. página após página como se faz com qualquer outro livro (ela observa) apenas levará à confusão. A primeira coisa a fazer, mesmo que leve anos, é alcançar alguma compreensão dos "Três Princípios Fundamentais", dados no Proêmio. Segue-se com o estudo da Recapitulação - os itens numerados no Resumo do Vol. I (Parte I). Passa-se então para as Notas Preliminares e Conclusão no Vol. II.*
*vol. 111 e IV na edição da Pensamento (N.E.)
H.P.B. parece estar bastante segura sobre a importância do ensinamento (na Conclusão) relativo às épocas de aparecimento das Raças e Sub-Raças. Ela explicou, de modo mais direto do que costuma fazer, que não existe coisa tal como o "nascimento" futuro de uma raça. "Não existem nem NASCIMENTO nem PASSAGEM, mas um eterno VIR-A-SER" ela diz. A Quarta Raça Raiz ainda está viva, como também a Terceira, Segunda e Primeira - isto é, suas manifestações estão presentes em nosso atual plano de substância. Eu sei o que ela quer dizer, mas está acima de minhas capacidades colocá-lo em palavras. Da mesma forma a Sexta Sub-Raça está aqui, bem como a Sexta Raça Raiz, a Sétima, e mesmo pessoas das Rondas vindouras. Isto é compreensível. Discípulos, Irmãos e Adeptos não podem ser pessoas comuns da Quinta Sub-Raça, pois a raça é um estado de evolução.
Mas ela não deixa qualquer dúvida, no que diz respeito à humanidade em geral, de que estamos a centenas de anos (no tempo e no espaço) até mesmo da Sexta Sub-Raça. Penso que H.P.B. demonstrou peculiar ansiedade em sua insistência sobre este ponto. Ela insinuou sobre "perigos e enganos" que surgem com a ideia de que a Nova Raça já despertou definitivamente no Mundo. Segundo ela, a duração de uma Sub-Raça para a humanidade em geral coincide com o Ano Sideral (a precessão do eixo da terra - em torno de 25.000 anos). Isto situa a nova raça em período ainda muito afastado.
Temos tido sessões excepcionais sobre o estudo da D.S. durante as últimas três semanas. Devo organizar minhas notas e registrar os resultados com segurança antes que os perca.
H.P.B. falou bastante sobre os "PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS". Disse que: “se alguém imagina que vai obter da D.S. um quadro satisfatório da constituição do Universo, esta pessoa somente chegará à confusão em seus estudos. Esta obra não está destinada a dar um veredicto final sobre a existência, mas CONDUZIR EM DIREÇÃO À VERDADE”. Ela repetiu esta expressão muitas vezes.
É mais do que inútil procurarmos aqueles que imaginamos serem estudantes avançados (disse ela) e pedir que nos dêem uma "interpretação" da D.S.. Eles não podem fazer isto, e se o tentarem tudo o que poderão dar serão traduções exotéricas fragmentadas e disformes que nem de longe se assemelham à VERDADE. Aceitar tais interpretações significa nos prendermos a ideias fixas, enquanto a VERDADE está além de qualquer ideia que possamos formular ou expressar. Interpretações exotéricas podem ser úteis e ela não as condenava, enquanto vistas como indicadores de caminho para os iniciantes, e não aceitas por eles como possuindo qualquer valor a mais. Muitas pessoas que estão na Sociedade Teosófica, e muitas ainda que estarão, no futuro, são potencialmente incapazes de qualquer progresso que ultrapasse o alcance de uma concepção exotérica. Mas existem alguns, e haverão outros, capazes de um alcance mais profundo, e para eles ela mostra o seguinte e verdadeiro caminho de abordagem da D.S..
Venha para a D.S. (ela diz) sem qualquer esperança de nela conseguir a VERDADE final sobre a existência, e sem qual¬quer outra ideia além de descobrir o quanto ela pode conduzi-los EM DIREÇÃO à Verdade. Veja no estudo um meio de exercitar e desenvolver a mente nunca antes tocada por outros estudos. Observe as seguintes regras: não importa o que se estude na D.S., a mente deve manter com firmeza, como base de sua ideação, as seguintes ideias:
(a) A UNIDADE FUNDAMENTAL DE TODA EXISTÊNCIA. Essa unidade é algo completamente diferente da noção comum de unidade - como quando dizemos que uma nação ou um exército está unido, ou que este planeta está unido a outro por linhas de força magnética, ou algo semelhante. O ensinamento não é esse, e sim o de que a existência é UMA COISA, não uma coleção de coisas colocadas juntas. Fundamentalmente existe UM SER, que possui dois aspectos: positivo e negativo. O positivo é o Espírito, ou CONSCIÊNCIA; o negativo é SUBSTÂNCIA, o assunto da consciência. Esse Ser é o Absoluto em sua manifestação primária. Sendo Absoluto, nada existe fora dele. É TODO-SER. É indivisível, pois de outro modo não seria absoluto. Se fosse possível separar-lhe uma parte, o restante não poderia ser absoluto, pois surgiria imediatamente a questão da COMPARAÇÃO entre ele e a parte separada, e a Comparação é incompatível com a ideia do absoluto. Consequentemente, é evidente que essa EXISTÊNCIA UNA ou SER ABSOLUTO deve ser a REALIDADE existente em cada forma que existe... (Eu disse que, embora isso estivesse claro para mim, não acreditava que muitos membros das Lojas o compreendessem. "A Teosofia - respondeu H.P.B. - é para aqueles que podem pensar, ou que podem ser levados por si próprios a pensar, e não para preguiçosos mentais." Ela tem se mostrado branda ultimamente; antes costumava chamar o estudante médio de "cérebro lento"*.)
* Dumskulls, em inglês. (N.T.)
O Átomo, o Homem, o Deus (ela diz) são, separadamente ou em conjunto, o Ser Absoluto em última análise; esta é a sua INDIVIDUALIDADE REAL. Este é o conceito que se deve manter sempre no fundo da mente para servir de base para toda concepção que surgir do estudo da D.S.. No momento em que esquecemos disso (o que é fácil acontecer quando estamos envolvidos com um dos muitos aspectos intrincados da Filosofia Esotérica), sobrevém a ideia da SEPARAÇÃO e o estudo perde seu valor.
(b) A segunda ideia a manter com firmeza é a de que NÃO EXISTE MATÉRIA MORTA. Todo átomo final é vivo. E não poderia ser de outra forma, pois cada átomo é fundamentalmente por si mesmo o Ser Absoluto. Por isso não existe coisa tal como "espaços de Éter” ou Akasha, ou chame como quiser, no qual os anjos e os elementais se divertem como trutas na água. Isso é o que se pensa usualmente. O verdadeiro conceito é o de que cada átomo de substância, não importa de que plano, é ele mesmo uma VIDA.
(c) A terceira ideia básica a ser mantida é a de que o HOMEM É O MICROCOSMO. E ele sendo assim, todas as Hierarquias dos Céus existem nele. Mas em verdade não existe nem Macrocosmo nem Microcosmo, mas UMA EXISTÊNCIA. O grande e o pequeno só existem como tais quando vistos por uma consciência limitada.
(d) A quarta e última idéia é aquela expressa no Grande Axioma Hermético que, na verdade, resume e sintetiza todos os outros. “Como o Interno, assim é o Externo; como o Grande, assim é o Pequeno; como é acima, assim é abaixo, só existe UMA VIDA E UMA LEI e aquele que atua é o UM. Nada é Interno, nada é Externo; nada é Grande, nada é Pequeno; nada é Alto, nada é Baixo na Economia Divina.” Deve-se buscar relacionar com essas idéias básicas qualquer coisa que se estude na D.S..
Sugeri que este tipo de exercício mental deve ser extremamente fatigante. H.P.B. sorriu e acenou concordando. Não se deve ser tolo (ela disse) e terminar em um hospício por tentar conseguir demais a princípio. O cérebro é o instrumento da consciência de vigília, e cada quadro mental consciente formado significa mudança e destruição de seus átomos. A atividade intelectual comum segue por caminhos bem traçados do cérebro e não força repentinos ajustes e destruições em sua substância. Mas este novo tipo de atividade mental exige algo muito diferente - o traçar de novos “caminhos no cérebro", o estabelecimento de uma ordem diferente para as pequenas vidas do cérebro. Se forçado de forma insensata, isto pode trazer sérios danos físicos ao cérebro.
Este modo de pensar (ela diz) é o que os indianos chamam de Jnâna Yoga. Na medida em que a pessoa progride em Jnâna Yoga, percebe o surgimento de conceitos que ela, embora consciente deles, não pode expressar e nem formular ainda em nenhum tipo de representação mental. Com o passar do tempo estes conceitos se transformam em quadros mentais claros. Nesta hora deve-se estar em guarda e recusar ser enganado pela idéia de que o maravilhoso quadro recém-encontrado representa a realidade. Porque não representa. Com o prosseguimento do trabalho se descobre que o quadro antes tão admirado se torna tosco e insatisfatório, até que finalmente desaparece ou é descartado. Este é outro ponto de perigo, pois a pessoa se encontra momentaneamente em um vazio, sem qualquer conceito em que se apoiar, e pode ser tentada a reavivar a representação anteriormente desprezada, por falta de uma melhor em que se apoiar. O verdadeiro estudante no entanto continuará a trabalhar despreocupado e logo outros vislumbres surgirão, os quais, por sua vez, darão lugar a uma representação mais ampla e mais bela que a última. Mas agora ele compreenderá que nenhum quadro pode jamais representar a VERDADE. Este último se tornará tosco e desaparecerá como os outros, e assim o processo continuará até que finalmente a mente e suas representações sejam transcendidos e o estudante entre e permaneça no Mundo da NÃO-FORMA, do qual todas as formas são pálidos reflexos.
O Verdadeiro Estudante de A Doutrina Secreta é um Jnâna Yogi, e esta Senda da Yoga é a Verdadeira Senda para o estudante Ocidental. A Doutrina Secreta foi escrita para fornecer as indicações de caminho desta Senda.
Nota posterior: Li para H.P.B. esta interpretação de seus ensinamentos, perguntando se eu a compreendera corretamente. Ela me chamou de um tolo cérebro lento, por imaginar que pudesse colocar qualquer coisa de forma correta em palavras. Mas depois sorriu e acenou afirmativamente com a cabeça dizendo que eu o havia conseguido melhor do que qualquer outra pessoa, e até mesmo melhor do que ela poderia ter feito.
Pergunto-me sobre o porquê de estar fazendo tudo isto. Este ensinamento deveria ser transmitido para o público em geral, mas estou velho demais para fazê-lo. Sinto-me como uma criança em relação a H.P.B., ainda que seja vinte anos mais velho.
Ela mudou muito desde que a encontrei há dois anos. É maravilhoso ver como ela se mantêm firme face ao grave estado de saúde. Mesmo se uma pessoa não soubesse e nem acreditasse em nada, H.P.B. a convenceria de que é algo além de corpo e cérebro. Durante estas últimas reuniões, desde que ela ficou tão doente, sinto que estamos recebendo ensinamentos de uma outra esfera mais elevada. Parece que sentimos e sabemos o que ela diz, ao invés de a escutarmos com nossos ouvidos físicos. X disse a mesma coisa na última noite.
(ass.) Robert Bowen
Com. Royal Navy 19 de Abril de 1891.
[Extratos das notas de ensinos pessoais dados por H.P.B. a estudantes privativos durante os anos de 1888 a 1891, incluídos num volume manuscrito maior deixado para mim por meu pai, que era um dos estudantes. P.G. Bowen] Esses extratos das notas do Sr. P.G. Bowen foram tirados de The Theosophical Forum, agosto, 1932 – os Editores.
Texto selecionado pelos irmãos Eliane Zaranza e Márcio Douglas para estudo em Loja realizado em 3 de abril de 2012.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
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