quarta-feira, 27 de junho de 2012

A serpente e o sábio

Nos arredores de uma pequena aldeia na Índia, vivia uma serpente negra. Sua picada não era fatal, mas deixava um homem doente por várias semanas. E muitos da aldeia já tinham sido mordidos. A serpente era rápida e maligna. Ela atormentava a aldeia.

Aconteceu numa primavera, de um homem sábio que fazia sua peregrinação anual, passar pela aldeia. Seus habitantes, adultos e crianças apressaram-se em correr e aglomerar-se ao seu redor para pedir suas bênçãos. Um camponês, ao contrário, postou-se fora da multidão, e aguardou até que o sábio colocasse sua mão na última cabeça, e foi então que se aproximou e disse:

- Venerável sábio, eu não venho pedir uma benção para mim apenas, mas para toda a aldeia. Se você puder nos livrar da serpente que nos atormenta , então seremos verdadeiramente abençoados, não só em palavras mas em ação.

O homem sábio pediu então que o conduzissem ao local onde havia um buraco no qual a serpente vivia. Ao se aproximar, o homem sábio viu a serpente toda enrolada em espiral, deitada próxima ao buraco.

O sol iluminando seu corpo macio e gordo, fazia brilhar faixas verdes e amarelas que compunham seu couro negro.

- "Serpente" – murmurou o homem sábio. Eu vim conversar com você.

A serpente ergueu sua cabeça e encarou o homem sábio com seus olhos vidrados.

- "Serpente" – sussurrou o homem. "Você tem que se desviar desse mau caminho por onde você tem deslizado". " A vida é curta. Quem saberá quantas outras tantas vidas você terá que viver para reparar esta?"

E começou a acariciar suavemente as costas da serpente. A serpente abaixou a cabeça e fechou seus olhos. E o homem sábio continuou a falar baixinho:

- "Serpente, você deve trilhar um caminho de paz, viver em harmonia com todos os seres vivos”.

Nessa hora a serpente silvou longa e nefastamente. Mas o homem sábio persistiu, sussurrando e acariciando suas costas. Devagarinho a serpente foi se desenrolando. E começou a se balançar suavemente como que acompanhando o ritmo dos sons suaves do homem sábio. Ele por sua vez escolhia cuidadosamente suas palavras, até cativar totalmente a serpente. Anoiteceu e o sábio ainda estava ali a falar e a acariciar a serpente mansamente. Finalmente ele disse:

- "Serpente, eu preciso ir agora. Mas vamos fazer um pacto. Por um ano inteiro você não fará mal aos habitantes da aldeia. Ao findar um ano eu voltarei e conversaremos novamente".

A serpente concordou e aceitou a promessa. Um ano se passou e novamente o homem sábio parou na frente do buraco da serpente e chamou:

- "Serpente, serpente, eu estou aqui". O homem sábio esperou por algum tempo até que viu a serpente sair com muito esforço e devagarinho.

Ele viu também muita dor e sofrimento. Seu corpo antes macio e lustroso, agora definhava, opaco e magro. Sua pele estava coberta com enormes cicatrizes e feridas algumas ainda em chagas.

- "Serpente, querida serpente". Gritou e chorou o homem sábio. "Quem fez isso com você?"

Falando baixo, mas sem amargura, a serpente contou sua história.

Quando os camponeses souberam da sua transformação, eles começaram por sua vez a atormentá-la. De longe, primeiro atiravam pedras e paus. Depois, vendo que ela não reagia, chegaram mais perto então.

- "Eu cumpri minha promessa" – disse a serpente. "E o resultado é que não posso mais dormir ao sol sem ser beliscada, pisoteada ou chutada. Eu errei em ouví-lo. Você é o responsável pelo meu sofrimento"

O homem sábio acariciou suavemente a fina pele da serpente.

- "Ah pobre serpente, eu sou realmente culpado. Seu tormento é inteiramente minha falha, pois eu não soube me expressar adequadamente. Eu pedi que você parasse de atacar os camponeses, mas não que parasse de silvar para eles". [E
xtraído de El Caballo Magico, de Idries Shah]

Texto selecionado para estudo em Loja realizado em 26 de junho de 2012.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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