quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sermão do Ciclo da Vida

Texto atribuído a Bodhidharma

A capacidade da mente é sem limite, e suas manifestações são sem fim. Ver formas com os seus olhos, ouvir sons com os seus ouvidos, sentir odores com o seu nariz, sentir sabores com sua língua, cada movimento ou estado é sua mente. A cada momento, lá onde a linguagem não pode ir, é a sua mente.

Dizem os sutras: "As formas de um tathagata são sem fim, e assim é sua consciência". A variedade sem fim de formas é devida à mente. Sua habilidade para distinguir coisas, qualquer que seja seu movimento ou estado, é a consciência da mente. Mas a mente não tem forma e sua consciência não tem limite. Portanto diz-se que "as formas de um tathagata são sem fim. E tal é a sua consciência".

O corpo material em quatro elementos(31) é um problema. Um corpo material é sujeito a renascimento e morte. Mas o corpo real existe sem existir, pois o corpo verdadeiro do tathagata nunca muda. Os sutras dizem que "As pessoas deviam perceber que a natureza búdica é algo que elas sempre tiveram". Kashyapa(32) apenas percebeu sua natureza própria.

Nossa natureza é a mente. E a mente nossa natureza. Essa natureza é o mesmo que a mente de todos os budas. Budas do passado e do futuro somente transmitem essa mente. Além dessa mente não há buda em parte alguma. Mas pessoas iludidas não percebem que suas próprias mentes são o buda. Elas continuam procurando fora. Elas nunca param de invocar budas ou venerar budas e imaginar onde está o buda. Não se entregue a tais ilusões. Simplesmente conheça sua mente. Além da sua mente não há outro buda. Dizem os sutras que "tudo que tem forma é ilusão". Eles também dizem que "onde quer que você esteja, há um buda." Sua mente é o buda. Não use um buda para venerar um buda.

Mesmo que repentinamente um buda ou bodhisattva(33) aparecesse diante de você não há necessidade de reverenciá-lo. Nossa mente é vazia e não contém tal forma. Aqueles que se apegam às aparências são demônios, eles desviam-se do caminho. Por que venerar ilusões nascidas da mente? Aqueles que veneram não sabem, e aqueles que sabem não veneram. Através da veneração você está a serviço de demônios. Aviso-o disso porque temo que você não esteja consciente disso. A natureza básica de um buda não tem tal forma. Mantenha isso em mente, mesmo que algo diferente apareça. Não o aceite, e não o tema, e não duvide que a sua mente é a princípio pura. Onde poderia haver espaço para tal formação? Além disso, o aparecimento de espíritos(34), demônios ou seres divinos não merece respeito nem medo. Sua mente é basicamente vazia. Todas aparências são ilusões. Não se apegue às aparências.

Se você vir um buda, Dharma ou bodhisattva(35) e prestar-lhe respeito você relega-se ao reino dos mortais. Se você procura entender diretamente não se apegue seja qual for a aparência, que você terá sucesso. Não tenho mais conselhos. Dizem os sutras que "todas as aparências são ilusões". Elas não têm existência fixa, nenhuma forma constante. Elas são impermanentes. Não se adere às aparências e você terá sua mente unificada com Buda. Dizem os sutras que "aquilo que é livre de todas as formas é o buda".

Mas por que não devemos venerar budas e bodhisattvas?

Os demônios têm o poder de manifestarem-se. Eles podem tomar a forma de bodhisattvas em todas as situações. Mas eles são falsos. Nenhum deles é buda. O buda é sua própria mente. Não desvie sua veneração.

Buddha é uma palavra sânscrita que significa desperto, miraculosamente desperto. Responder, perceber, arquear as sobrancelhas, piscar os olhos, mover as mãos e pés, tudo é sua natureza miraculosamente desperta. E essa natureza é a mente. E essa mente é o buda. E o buda é o caminho. E o caminho é zen (36). Mas a palavra zen é uma das que permanece um quebra-cabeça tanto para mortais como para sábios. Ver sua natureza é zen. A menos que você veja sua natureza, não é zen.

Mesmo que você possa explicar milhares de sutras e shastras(37), a menos que você veja sua natureza própria seu ensinamento é o de um mortal, não de um buda. O Caminho verdadeiro é sublime. Ele não pode ser expresso através de linguagem. Para que servem as escrituras? Mas alguém que veja sua natureza própria acha o Caminho, mesmo que ele não possa ler uma única palavra. Alguém que veja sua natureza é um buda. E, uma vez que o corpo de um buda é intrinsecamente puro e sem manchas, e tudo que ele diz é uma expressão de sua mente, sendo basicamente vazio, um buda não pode ser encontrado em palavras ou qualquer lugar do Cânone Desdobrado em Doze.

O Caminho é basicamente perfeito. Ele não precisa ser aperfeiçoado. O Caminho não tem formas ou som. Ele é sutil e difícil de perceber. É como quando você bebe água: você sabe quão quente ou fria está, mas você não pode explicar aos outros. Daí que somente um tathagata sabe que homens e deuses permanecem desatentos. A consciência dos mortais é rasa. Uma vez que eles são apegados às aparências, eles não estão conscientes de que suas mentes são vazias. E por aterem-se erradamente à aparência das coisas eles perdem o Caminho.


Texto selecionado pela irmã Lucinéa Silva para estudo em Loja realizado em 13 de novembro de 2012.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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