O OBSERVADOR E O OBSERVADO

Assim, o que acontece quando o observador é o observado – a concretude, não a idéia disso -, o que acontece? Eu fui magoado desde a infância, pela escola, por meus pais, por outros meninos e meninas, os senhores sabem, fui magoado, ferido psicologicamente. E carrego essa mágoa por toda a minha vida, escondida, ansiosa, amedrontada, e sei qual será o resultado de tudo isso. Agora compreendo que, enquanto a imagem que eu criei, que foi construída, enquanto ela existir, haverá mágoa. Essa imagem sou eu. Posso ver esse fato? Não enquanto uma idéia, mas vendo o fato concreto de que a imagem é mágoa, que a imagem sou “eu”. Entendem? Podemos nos reunir, pensar juntos, pelo menos sobre esse único ponto?

Nesse caso, o que acontece? Previamente, o observador tentou fazer alguma coisa sobre a mágoa. Agora, o observador está ausente. Por conseguinte, não pode fazer coisa alguma a respeito. Entendem? Entenderam o que aconteceu? Antes, o observador empenhou-se para suprimi-la, controlá-la, não ser magoado, isolando-se, resistindo, e tudo mais, fazendo um esforço enorme. Mas quando é compreendido o fato de que o observador é o observado, o que acontece? Querem que eu lhes diga? Assim não chegamos a lugar nenhum, o que eu digo aos senhores não tem nenhum sentido. Mas se caminhamos juntos até aqui, pensamos juntos e chegamos a esse ponto, os senhores descobrirão por si mesmos que, enquanto fizerem esforço, haverá divisão, certo? De modo que, na observação pura não há esforço e, portanto, a coisa que foi construída como imagem começa a dissolver-se. Esse é todo o ponto.

KRISHNAMURTI. J. A Humanidade Pode Mudar?, pp. 260-261, Rio de Janeiro: Nova Era, 2007.