quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Natureza do Dzogchen - parte 3

Aqui o comentário começa a embalar o intelecto com seus clichês, ao estabelecer elaborações através de uma conexão causal, ao mesmo tempo em que vai destruindo – desconstruindo - a estrutura do intelecto, indicando o estado natural do ser, a realidade supra-racional da Grande Perfeição, que sempre jaz imanente no momento intemporal. Aqui, a linguagem auto-referente da tradição indica a base não-estruturada de toda linguagem. Como essa realidade existe na ausência de características, atributos ou funções, emprega-se o método dos Upanishads "Nem isto! Nem aquilo!". O mistério da Grande Perfeição reside na sua realidade inefável, não-dual, que é uma unidade, mas ao mesmo tempo, uma multiplicidade. É ao mesmo tempo a fonte e a criação. É inconcebível e inexprimível. É a mente iluminada, a mente pura. O objetivo do Dzogchen é revelar toda a experiência de como é essa realidade. O ensinamento são os princípios evidentes por si mesmos, apresentados na série A Mente Dzogchen.

Não há nada a fazer! ‘Não-ação' or 'ação não-direcionada' é o que define a natureza, o ethos e a dinâmica da Grande Perfeição. O aqui-e-agora é um campo de imanente uniformidade. Qualquer tentativa de afetá-lo ou mudá-lo a partir de uma técnica qualquer é contraproducente. Qualquer emprego de esforço lhe diminui. Procurá-lo é impedir-lhe a descoberta. Não-ação é o preceito que define a inclinação natural da natureza da mente ou a ausência de qualquer inclinação nesse sentido para que a dinâmica evidente do campo de realidade seja descristalizada em gnose.

Nada de meditação! Nada de disciplina! A mente pura que é a natureza de toda a experiência jamais vem a ser ou deixa de ser; ela não pode ser criada ou destruída: ela não tem estrutura. Ela não pode, portanto, ser acessada através da atividade estruturada de disciplina calculada, e toda meditação orientada para um objetivo é atividade estruturada. Abandonando toda e qualquer prática, inclusive toda técnica de meditação que condiciona a mente e que tem como foco um objeto da visão, da audição ou do pensamento, não existe meditação, mas apenas um continuum interminável de mente pura. Não-meditação e não-estrutura são ilustradas especificamente na Quarta transmissão, intitulada Minério de Ouro Puro.

Nada de progresso! Nada de desenvolvimento num processo gradativo! O momento é perfeito e completo em si mesmo e nada superior pode se efetuar. Não há possibilidade de alcançar algo mais desejável do que o momento presente. Nada de crescimento pessoal é possível. É impossível a evolução no sentido de um objetivo maior. Não há maturidade que se possa antecipar. A noção de processo em si é redundante, porque ela funciona através do tempo num padrão linear ilusório construído pelo intelecto.

Não há lugar para se ir! O aqui-e-agora é sempre completo no momento presente, portanto, não há caminho a seguir, não há busca, não há viagem, não há destino. É impossível mover-se em direção de ou afastar-se da realidade da mente pura, uma vez que ela está sempre aqui e agora. O processo inevitável e universal da realidade que a tudo permeia é sempre imanente. Não há outro destino senão a dinâmica natural libertadora do momento. Isto é ensinado especificamente em Criatividade Radical. [continua]

DOWMAN, Keith. Radical Dzogchen / Eye of the Storm - Vairotsana's Five Original Transmissions, p. xvi-xvii, Vajra Publications, Kathmandu, Nepal, 2006. Tradução Roberto Carlos de Paula.


"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

Um comentário:

Rigdzin Rigpa Zangpo disse...

Vocês tem a continuação do texto: A Natureza do Dzogchen?