quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

As emoções e o ciclo do karma

Muitas pessoas no Ocidente se sentem incomodadas quando ouvem as emoções serem rotuladas como “negativas”, mas não são as emoções em si mesmas que são negativas. Todas as emoções ajudam na nossa sobrevivência e são necessárias para a totalidade da experiência humana, inclusive as emoções de apego, raiva, orgulho, ciúmes, etc. Sem as emoções não viveríamos plenamente.

No entanto, as emoções tornam-se negativas, quando somos iludidos por elas e perdemos contato com os aspectos mais profundos de nós mesmos. Elas são negativas, quando reagimos com apego ou aversão, porque, quando isso acontece, sofremos uma limitação de consciência e de identidade. Nesse caso, então, semeamos as sementes das futuras condições negativas que nos aprisionam nos reinos de sofrimento, tanto nesta vida, como nas vidas subsequentes, nas quais pode se tornar difícil empreender a jornada espiritual. E este resultado é negativo, quando comparado a uma identidade mais expansiva e, particularmente, quando comparado à liberação de todas as identidades projetadas e limitadas. É por isso que é importante pensarmos nos reinos não apenas como emoções, mas também como seis dimensões de consciência e experiência.

Existem diferenças culturais no que toca à emoção. Por exemplo, o medo e a tristeza não são mencionados frequentemente nos ensinamentos, não obstante grande parte do samsara esteja impregnado de ambos. E o conceito de autodestruição é estranho para os tibetanos, que não possuem palavras para descrevê-lo. Quando fui à Finlândia muitas pessoas conversaram comigo sobre depressão. Foi um contraste enorme com a Itália que eu acabara de visitar, onde as pessoas pareciam falar muito pouco de depressão. O clima, a religião, as tradições e os sistemas de crenças espirituais nos condicionam e afetam a nossa experiência. Mas o mecanismo subjacente pelo qual ficamos presos – o apego e a aversão, a projeção e a interação dualista com a qual projetamos – é a mesma em todo lugar. E é isso que é negativo na experiência emocional.

Se nós realmente compreendêssemos e experimentássemos a natureza vazia da realidade, não haveria nenhum apego e logo, nenhuma forma mais grosseira de emoção; mas, ignorantes da verdadeira natureza dos fenômenos, nos apegamos às projeções da mente, como se elas fossem reais. Desenvolvemos uma relação dualística com as ilusões, sentindo raiva ou cobiça, ou alguma outra reação emocional. Na realidade absoluta, não existe nenhuma entidade independente que seja o alvo de nossa raiva, ou o objeto de qualquer emoção. Não há absolutamente nenhuma razão para se ficar zangado. Nós criamos a história, as projeções e a raiva ao mesmo tempo.

No Ocidente, muitas vezes o conhecimento das emoções é usado na Psicologia, para tentar melhorar as vidas das pessoas no samsara. Isso é bom. O sistema tibetano tem, porém, um objetivo diferente e está mais voltado a conhecer as emoções, para podermos nos livrar das constrições e visões errôneas às quais nos prendemos através das ligações emocionais. Novamente, isso não significa que as emoções são negativas por si só, e sim que elas se tornam negativas, na medida em que nos apegamos a elas, ou fugimos delas.

[...] Antes da realização, a verdadeira natureza do indivíduo está obscurecida pela ignorância básica que dá origem à mente conceitual. Enredada na visão dualista, a mente conceitual divide a unidade indivisível da experiência em entidades conceituais e então se relaciona com essas projeções mentais como se elas existissem inerentemente como seres e coisas independentes. O dualismo primordial divide a experiência em duas partes: o eu e o outro e as preferências se desenvolvem a partir da identificação com apenas um aspecto da experiência, o eu. Isso resulta no surgimento da aversão e do desejo, que se tornam a base tanto para as ações físicas quanto mentais. Estas ações (karmas) deixam traços na mente do indivíduo como tendências condicionadas, que resultam em mais apego e aversão que levam a novos traços kármicos, e assim por diante. Esse é o ciclo do karma que se autoperpetua.

RIMPOCHE, Tenzin Wangyal. O Yoga Tibetano do Sonho e do Sono, pp. 50-51, 62, 1ª ed., Devir Livraria, São Paulo: 2010



KARMA, SONHO E SONO


  • “Não desejes nada. Não te indignes contra o Carma, nem contra as leis imutáveis da natureza. Mas luta apenas com o pessoal, o transitório, o evanescente e o que tem de perecer.”
  • “Aceita, pois, tanto quanto o mérito te reserva, ó de coração paciente. Anima-te e contenta-te com a sorte. Tal é o teu Carma, o Carma do ciclo dos teus nascimentos, o destino daqueles que, na sua dor e tristeza, nascem a ti ligados, riem e choram de vida a vida, presos às tuas ações anteriores."
  • “O Caminho Secreto conduz o Arhan a uma angústia mental inexprimível; dor pelos mortos que estão vivos, e compaixão inútil pelos homens da tristeza cármica; o fruto do Carma não ousam os Sábios fazer parar. Porque está escrito: “Ensina a evitar todas as causas; à maré do efeito, como à grande onda, deixarás seguir o seu curso”.
  • “Aquele que quiser ouvir a voz de Nada, o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana. Tendo-se tornado indiferente aos objetos da percepção, deve o aluno procurar o Raja dos sentidos, o produtor de pensamentos, aquele que acorda a ilusão.”
  • “A Mente é a grande assassina do Real. Que o discípulo mate o assassino. Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos; quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um - o som interior que mata o exterior.”
  • “Os três estados de consciência, que são: Jagrat, o de vigília; Svapna, o de sonho; e Sushupti, o estado de sono profundo. Estas três condições iogues conduzem ao quarto, que é o Turiya, o que está além do estado do sono sem sonhos, um estado de alta consciência espiritual.”
Blavatsky, H.P. A Voz do Silêncio, trad. Fernando Pessoa.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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