Sexta-feira 25 de fevereiro de 1983
Há uma árvore à beira do rio e todos os dias, há várias semanas, observamos quando o sol está prestes a nascer. À medida que o sol se levanta lentamente sobre o horizonte, por cima das árvores, esta árvore em particular de repente torna-se dourada. Todas as folhas parecem estar radiantes de vida, e quando você olha para a árvore, enquanto as horas passam, não importa o nome da árvore, o que importa é a sua beleza, uma qualidade extraordinária que parece estender-se por toda a terra, sobre o rio. E quando o sol sobe mais um pouco, as folhas começam a se agitar, a dançar. E cada hora que passa parece conferir àquela árvore uma qualidade diferente. Antes do sol sair, você a vê melancólica, sossegada, muito distante, plena de dignidade. E ao começar o dia, as folhas cobertas de luz dançam e dão à árvore este sentimento peculiar que você possui, o sentimento de imensa beleza. Ao meio-dia, a sombra da árvore ganha mais profundidade e você pode sentar-se ali protegido do sol, sem jamais sentir-se sozinho, tendo a árvore como companhia. Enquanto você permanece ali, existe uma relação de segurança profunda e duradoura e uma liberdade que só as árvores podem conhecer.
Ao anoitecer, quando o céu no Ocidente se ilumina com o sol poente, a árvore, pouco a pouco, retorna ao seu estado sombrio, escuro, até fechar-se sobre si mesma. O céu fica vermelho, amarelo e verde, mas a árvore permanece quieta, oculta, e descansa durante a noite.
Se você estabelece uma relação com a árvore, você está conectado com a humanidade. Você é responsável, então, por essa árvore e por todas as árvores do mundo. Mas se você não se relaciona com as coisas viventes desta Terra, você pode perder toda a a conexão com a humanidade, com os seres humanos. Nunca observamos com profundidade a qualidade de uma árvore, nunca tocamos realmente a sua solidez, a aspereza de sua casca, nem ouvimos o som que é parte da árvore. Não o som do vento nas folhas, nem da brisa que agita a folhagem numa manhã, mas o som da própria árvore, o som do tronco e do silêncio das raízes. Você tem que ser extremamente sensível para ouvir o som. Este som não é o barulho do mundo, nem o falatório mental, nem o ruído da vulgaridade das disputas e conflitos humanos, mas o som como parte do universo.
É estranho que tenhamos tão pouca conexão com a natureza, com os insetos, com a rã que salta, com a coruja que canta entre as colinas para chamar o seu parceiro. Parece que nunca experimentamos qualquer sentimento por qualquer vivente da Terra. Se pudéssemos estabelecer uma relação profunda e duradoura com a natureza, jamais mataríamos um animal para satisfazer o nosso apetite, jamais causaríamos dano a um macaco, um cachorro ou um porquinho-da-índia, praticando a vivissecção para o nosso próprio benefício. Encontraríamos outros meios para curar as nossas feridas, os nossos corpos. Mas a cura da mente é algo totalmente diferente. Essa cura ocorre de modo gradual quando você está em comunhão com a natureza, com a laranja pendurada na árvore, com a lâmina de grama empurrando o cimento, com os morros cobertos, escondidos pelas nuvens.
Isso não é sentimentalismo nem imaginação romântica, mas a realidade de uma relação com tudo aquilo que vive e se move sobre a terra. O homem já matou milhões de baleias e continua matando. Tudo o que conseguimos obter com essa matança, poderíamos obter por outros meios. Mas, ao que parece, o homem gosta de matar as coisas, ele mata o cervo que corre veloz, a gazela que se move graciosa, o elefante que impressiona por seu tamanho. Gostamos de nos matar uns aos outros. Matar outros seres humanos é algo que jamais cessou ao longo de toda a história da vida humana sobre a Terra. Se pudéssemos estabelecer uma relação profunda e duradoura com a natureza, com as próprias árvores, os arbustos, as flores, a grama, as nuvens que passam - e isso temos que fazer, jamais mataríamos um outro ser humano por qualquer razão que fosse. A guerra é o assassinato organizado e embora nos manifestemos contra uma guerra específica, a guerra nuclear ou qualquer outro tipo de guerra, nunca nos manifestamos contra a guerra em si mesma. Jamais, em tempo algum, dissemos que matar outro ser humano é o maior pecado da Terra.
Tradução livre por Lúcio Saens, Jorge Machado, Eliane Zaranza e Roberto Carlos de Paula, para estudo em Loja realizado em 4 de janeiro de 2011.
"EL ÚLTIMO DIÁRIO" - texto original em espanhol
Ojai, Califórnia
Viernes, 25 de febrero, 1983
Hay un árbol junto al río, y hemos estado observándolo día tras día por algunas semanas, cuando el sol está a punto de asomarse. A medida que el sol se levanta lentamente sobre el horizonte, por encima de los árboles, este árbol particular se torna súbitamente de oro. Todas las hojas se ven radiantes de vida, y cuando uno contempla ese árbol mientras las horas pasan ‑no importa el nombre del árbol, lo que importa es su belleza- una cualidad extraordinaria parece extenderse sobre toda la tierra, sobre el río. Y cuando el sol asciende un poco más, las hojas comienzan a aletear, a danzar. Y cada hora que pasa parece conferir a ese árbol una cualidad diferente. Antes de salir el sol se le ve melancólico, sosegado, muy distante y pleno de dignidad. Y al comenzar el día, las hojas cubiertas de luz danzan y le dan al árbol ese peculiar sentimiento que uno tiene de inmensa belleza. A mediodía su sombra se ha hecho más profunda, y uno puede sentarse ahí protegido del sol, sin sentirse jamás solo con el árbol como compañero. Mientras uno permanece ahí, existe una relación de profunda y perdurable seguridad y una libertad que únicamente los árboles pueden conocer.
Hacia el anochecer, cuando el cielo occidental se ilumina con el sol poniente, el árbol se vuelve poco a poco sombrío, oscuro, y se cierra sobre sí mismo. El cielo se ha vuelto rojo, amarillo y verde, pero el árbol permanece quieto, oculto, y descansa durante la noche.
Si uno establece una relación con el árbol, entonces está relacionado con la humanidad. Uno es responsable, entonces, por ese árbol y por los árboles del mundo. Pero si uno no se relaciona con las cosas vivientes de esta tierra, puede perder toda relación con la humanidad, con los seres humanos. Nosotros nunca observamos profundamente la cualidad de un árbol; nunca lo tocamos realmente sintiendo su solidez, su áspera corteza, ni escuchamos el sonido que es parte del árbol. No el sonido del viento entre las hojas, ni el de la brisa que en la mañana agita el follaje, sino el sonido propio del árbol, el sonido del tronco y el silencioso sonido de las raíces. Uno tiene que ser extraordinariamente sensible para escuchar el sonido. Este sonido no es el ruido del mundo, ni el ruido del parloteo mental, ni el de la vulgaridad de las disputas humanas y del conflicto humano, sino el sonido como parte del universo.
Es extraño que tengamos tan poca relación con la naturaleza, con los insectos, con la rana saltarina, con el búho que ulula entre los cerros llamando a su pareja. Parece que nunca experimentamos sentimiento alguno por todas las cosas vivientes de la tierra. Si pudiéramos establecer una profunda y duradera relación con la naturaleza, jamás mataríamos un animal para satisfacer nuestro apetito, jamás haríamos daño a un mono, a un perro o a un conejillo de Indias practicando en ellos la vivisección para nuestro propio beneficio. Encontraríamos otros medios para curar nuestras heridas, nuestros cuerpos. Pero la curación de la mente es algo por completo distinto. Esa curación tiene lugar gradualmente si uno está con la naturaleza, con esa naranja en el árbol, con la brizna de hierba que empuja a través del cemento, con los cerros cubiertos, ocultos por las nubes.
Esto no es sentimentalismo ni imaginación romántica, sino la realidad de una relación con todo cuanto vive y se mueve sobre la tierra. El hombre ha matado millones de ballenas y aún las sigue matando. Todo lo que obtenemos de esa matanza podríamos obtenerlo por otros medios. Pero al parecer el hombre gusta de matar cosas; mata al ciervo veloz, a la maravillosa gacela y al gran elefante. Nos gusta matarnos los unos a los otros. Este matar a otros seres humanos jamás ha cesado a lo largo de toda la historia de la vida del hombre sobre la tierra. Si pudiéramos ‑ y tenemos que hacerlo- establecer una profunda y perdurable relación con la naturaleza, con los árboles reales, los arbustos, las flores, la hierba y las rápidas nubes, entonces jamás mataríamos a otro ser humano por ninguna razón. La guerra es el asesinato organizado, y aunque nos manifestemos contra una guerra en particular ‑la guerra nuclear o cualquier otro tipo de guerra- jamás nos hemos manifestado contra la guerra en sí. Jamás hemos dicho que matar a otro ser humano es el más grande pecado de la tierra.
KRISHNAMURTI, J. Krishnamurti to Himself - His Last Journal, trad. Armando Clavier, Ed. Romanya Vals Verdaguer Capellades, Barcelona, 1989.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
Nenhum comentário:
Postar um comentário