quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Confiar em paciência
Quando alguém gera uma mente de alegria
Ao elogiar as boas qualidades de outra pessoa,
Por que, mente, também tu não a elogias
E provas da mesma alegria?
Devo sempre me regozijar com a felicidade e a virtude alheias.
Tal alegria aumenta minhas virtudes.
Ademais, deleita os seres sagrados
E é o método supremo para beneficiar os outros.
Tendo gerado a motivação da bodichita,
Que deseja que todos os seres sejam felizes,
Por que cargas d´água não nos regozijamos
Quando os outros encontram um pouco de felicidade?
Se uma pessoa de quem eu cuido
E a quem sustento de diversas maneiras
Encontrasse seu próprio ganha-pão,
Seguramente, isso me deixaria feliz, nunca aborrecido.
Se invejo tanto os seres vivos,
Como posso desejar que eles atinjam a iluminação?
Onde está a bodichita de alguém que não fica feliz
Quando os outros recebem algo de bom?
Como explicar que ao sentir raivas jogamos fora nosso mérito,
A fé que outros têm em nós e outras boas qualidades?
Não seria melhor sentir raiva da própria raiva,
Visto que ela não traz benefícios nem para nós nem para os outros?
Já basta que tu, mente, não tenhas remorso
Pelas não-virtudes que cometeste;
Mas por que alias isso
À inveja daqueles que praticam virtude?
O pensamento que deseja a dor do inimigo
Só prejudica a nós mesmos, ao criar não-virtude;
Compreendendo isso, não devemos gerar pensamentos prejudiciais
Por ninguém, inclusive nossos inimigos.
E mesmo que teu inimigo sofresse conforme desejas,
Como isso te beneficiaria?
Se disseres ´bem, pelo menos isso me daria certa satisfação´,
Haveria mente mais vil do que essa?
Elogios, fama e boa reputação
Não vão aumentar meu mérito nem estender minha vida,
Tampouco me fortalecer, me libertar de doenças
Ou me proporcionar outras formas de prazer físico.
Prazeres efêmeros, como beber e divertir-se com futilidades,
São enganosos.
Se eu compreender o real significado de uma vida humana,
Nada disso terá valor para mim.
Alguns sons efêmeros e inanimados
Não podem ter a intenção de me elogiar.
´Mas eles são uma fonte de prazer para aquele que te elogia;
Logo, também deves te alegrar.´
Buscar felicidade nos elogios
Dos amigos e de outras pessoas
É totalmente inadequado -
Uma atitude bastante infantil.
Louvor e coisas assim me distraem da virtude,
Enfraquecem minha desilusão com o samsara,
Fazem-me invejar as boas qualidades alheias
E minam tudo que é benéfico.
Portanto, aqueles que conspiram
Para me impedir de ser elogiado,
Na realidade, estão agindo para me impedir
De cair nos reinos inferiores!
Eu, que busco libertação, não preciso de riquezas ou boa reputação,
Pois tudo isso só me mantém cativo no samsara;
Então, por que sinto raiva
De quem me livra desse cativeiro?
´Não estariam eles obstruindo tua prática virtuosa?´
Absolutamente! Não existe prática virtuosa maior do que a paciência;
Portanto, nunca ficarei com raiva
Daqueles que me fazem sofrer.
Se em razão de meus próprios defeitos
Eu não praticar paciência com um inimigo.
Não será ele, mas eu, que impedirá minha prática de paciência -
A causa para acumular mérito.
Meu inimigo é a causa para que eu acumule o mérito da paciência,
Porque, sem ele, não existe paciência a ser praticada,
Ao passo que, com ele, existe.
Então, como dizer que o inimigo obstrui minha prática virtuosa?
Devo me deleitar por ter encontrado um inimigo,
Capaz de me ajudar a praticar a conduta que leva à iluminação,
Tanto quanto o faria se, de repente, surgisse um tesouro em minha casa,
Sem que eu tivesse me esforçado para obtê-lo.
Além de mim, meu inimigo é causa da minha prática de paciência.
Devo, portanto, primeiro dedicar
Quaisquer frutos dessa prática,
À pessoa que foi uma causa dela.
Assim, porque a prática de paciência ocorre
Na dependência daqueles que têm mentes de ódio,
Tais pessoas devem ser veneradas exatamente como o santo Darma,
Pois elas são as causas da prática de paciência.
Já que seres vivos e iluminados são semelhantes
No sentido de que as qualidades de um Buda surgem na dependência dos seres vivos,
Por que não respeitamos os vivos
Tanto quanto respeitamos os iluminados?
As qualidades exclusivas de um Buda são tão extensas
Que a manifestação de uma ínfima fração delas num ser
O tornaria digno de uma veneração que permaneceria inexprimível
Mesmo que se lhe oferecesse tudo o que existe nos três mundos.
Beneficiando os seres vivos, retribuirei a Buda,
Que muitas vezes deu a vida e foi aos confins do inferno por amor a eles.
Portanto, mesmo que me inflijam grande dor,
Vou sempre tratá-los com respeito e bom coração.
Budas se deleitam quando os seres vivos estão felizes
E não gostam quando são prejudicados;
Segue-se, portanto, que agradar ou prejudicar seres vivos
É o mesmo que agradar ou prejudicar todos os Budas.
Se maltratarmos uma criança,
Não haverá como agradar sua mãe.
Do mesmo modo, se maltratarmos qualquer ser vivo,
Não haverá como agradar os compassivos Budas.
De agora em diante, para deleitar os Tathagatas,
Sem hesitar, tornar-me-ei um servo de todos os seres vivos.
Mesmo que me chutem ou humilhem,
Vou agradar os Budas não retaliando.
Não há dúvida de que os compassivos Budas
Trocaram completamente o eu com todos os seres vivos.
Assim, Budas e seres vivos possuem a mesma natureza;
Logo, devemos dedicar-lhes igual respeito.
Praticar dessa maneira agrada a todos os Budas,
É um método perfeito para acumular boa fortuna
E me capacita a dissipar os sofrimentos do mundo.
Portanto, preciso praticar sempre os três tipos de paciência.
Se, por exemplo, o ministro de um rei
Viesse a prejudicar muita gente,
Pessoas de visão não retaliariam
Ainda que tivessem a possibilidade de fazê-lo,
Pois veriam que ele não está sozinho,
Mas é apoiado pelo poder do rei.
Do mesmo modo, não devemos retaliar
Quem nos causa pequenos danos,
Porque são apoiados pelos compassivos Budas -
E pelos guardiões do inferno!
Portanto, devemos ser como os súditos de um poderoso rei
E tentar agradar os outros seres vivos.
E por mais benévolo que fosse,
Um rei não poderia conceder-me a aquisição da budeidade,
A qual experienciarei
Se agradar outros seres.
Por que não enxergo que a aquisição final da budeidade,
Bem como meu sucesso, boa reputação
E prosperidade nesta vida,
Provêm de agradar os outros seres vivos?
Mesmo estando no samsara,
Se praticar paciência, terei formas agradáveis,
Boa saúde, reputação,vidas muito longas
E até a imensa felicidade de um rei chakravatin!
Assim termina o sexto capítulo do Guia do estilo de vida do Bodissatva, intitulado ´Confiar em paciência´
Versos selecionados pela irmã Lucinéa Silva para estudo em Loja realizado em 17 de janeiro de 2012, extraídos do livro Guia do estilo de vida do Bodissatva - Um poema budista para os dias de hoje, de Shantideva.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
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