quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Luz no Caminho

18. Busca o caminho, retirando-te para o interior. 

19. Busca o caminho, avançando resolutamente para o exterior.

20. Busca-o, mas não em uma direção única. 

Para cada temperamento existe uma via que parece a mais desejável. Porém, só pela devoção não se encontra o caminho, nem pela mera contemplação religiosa, nem pelo ardor de progresso, nem pelo laborioso sacrifício de si mesmo, nem pela estudiosa observação da vida. Nenhuma destas coisas por si só faz adiantar ao discípulo mais que um passo. Todos os degraus são necessários para subir a escada. Os vícios dos homens se convertem em degraus da escada, um a um, à proporção que vão sendo dominados. As virtudes do homem são, em verdade, degraus necessários, dos quais se não pode prescindir de modo algum. Entretanto, ainda que criem uma bela atmosfera e futuro feliz, são inúteis, se estão isoladas. A natureza toda do homem deve ser sabiamente empregada por aquele que deseja entrar no caminho. Cada homem é absolutamente para si mesmo o caminho, a verdade e a vida. Só o é, porém, quando domina firmemente toda a sua individualidade, e quando, pela energia de sua acordada espiritualidade, reconhece que esta individualidade não é ele mesmo, mas uma coisa que ele criou trabalhosamente para seu uso e por cujo meio se propõe, à proporção que o seu crescimento desenvolve lentamente a sua inteligência, alcançar vida além da individualidade. Quando sabe que para isto existe a sua assombrosa vida complexa e separada, então, em verdade e só então, se acha no caminho. Busca-o nas profundidades do mais íntimo do teu ser. Busca-o provando toda a experiência, utilizando os sentidos a fim de compreender o desenvolvimento e a significação da individualidade, a formosura e a obscuridade desses outros fragmentos divinos que contigo e a teu lado combatem e que formam a raça à qual pertence. Busca-o estudando as leis do ser, as leis da natureza e as leis do sobrenatural: e busca-o prosternando a tua alma ante a pequena estrela que arde no interior. Enquanto vigias e adoras com perseverança, a sua luz irá sendo cada vez mais brilhante. Então poderás reconhecer que encontraste o começo do caminho. E quando chegares ao fim, a sua luz se converterá subitamente em luz infinita.

Nota — Busca-o provando toda a experiência, e não te esqueças de que, ao dizer isto, não digo: cede às seduções dos sentidos a fim de conhecê-las. Antes de converter-te em ocultista, podes fazê-lo, porém não depois. Uma vez que tenhas escolhido o caminho e nele penetrado, já não podes, sem receio, ceder a tais seduções. Podes experimentá-las sem horror, podes observá-las, medi-las e analisá-las e esperar, com paciência e confiança, a hora em que nenhuma impressão cause em ti. 

Mas, não condenes o homem que cede; estende-lhe a mão como a um teu irmão peregrino, cujos pés se tornaram pesados de lama. Tem presente — ó discípulo! — que, por grande que seja o abismo que existe entre o homem virtuoso e o pecador, é ainda maior entre o homem virtuoso e aquele que obteve o conhecimento; e que é incomensurável entre o homem virtuoso e aquele que se acha nos umbrais da divindade. Portanto, guarda-te de imaginar, antes do tempo, que és alguma coisa distinta da massa!  

Quando houveres encontrado o começo do caminho, a estrela da tua alma deixará ver sua luz e, com sua claridade, perceberás quão grande é a escuridão no meio da qual brilha. A mente, o coração, o cérebro, tudo está escuro e em trevas, até que se tenha ganho a primeira batalha. Mas não deixes, por isso, que o espanto e o temor te dominem; mantém teus olhos fixos na pequena luz e esta irá crescendo. Porém, faze com que a escuridão interior te ajude a compreender a desolação daqueles que não viram luz alguma e cujas almas estão sumidas em profundas trevas.

Não os censures nem te apartes deles; antes, pelo contrário, procura aliviar algum tanto o pesado Karma que ao mundo oprime; presta tua ajuda aos poucos braços vigorosos que impedem as potências das trevas de obter uma completa vitória. Agindo desta forma, começarás a participar da felicidade, que, em verdade, acarreta um terrível trabalho e uma tristeza profunda, porém que é também um manancial de delícias sem fim.

21. Busca a flor que desabrocha durante o silêncio que segue à tormenta, e não antes.

A planta crescerá e se desenvolverá, lançará ramos e folhas, e formará botões enquanto prossegue a tempestade e perdura a batalha. Mas enquanto a personalidade toda do homem não tiver sido dissolvida e fundida; enquanto o divino fragmento que a criou não a manejar como mero instrumento de experimentação e experiências, enquanto a natureza toda não tiver sido vencida e se tornado submissa ao Eu Superior, a flor não poderá abrir-se. Então, sobrevirá uma calma como a que nos países tropicais sucede a uma chuva torrencial, quando a Natureza age com tanta rapidez que a sua ação pode ser vista. Uma calma semelhante se difundirá sobre o espírito fatigado. E no silêncio profundo ocorrerá o misterioso sucesso, o qual provará que se encontrou o caminho. Podes chamá-lo como quiseres; é uma voz que fala onde não há ninguém que fale; é um mensageiro que vem, mensageiro sem forma nem substância, ou antes é a flor da alma que se abriu. Não há metáfora que possa descrevê-lo. Mas pode-se pressentir, procurar e desejar, mesmo no meio da fúria da tempestade. O silêncio pode durar apenas um momento, ou pode prolongar-se por milhares de anos, porém, terá fim. Contudo, reterás contigo a sua força. Uma e outra vez terá que dar e ganhar a batalha. O repouso da Natureza só pode ser um intervalo.

Nota — O desabrochar da flor é o glorioso momento em que a percepção se desperta; com ela nascem confiança, o conhecimento e a certeza. A pausa da alma é o momento de assombro, e o seguinte momento de satisfação é o silêncio.

Sabe — ó discípulo! — que aqueles que passaram pelo silêncio, sentiram a sua paz e retiveram a sua força, anseiam que passes tu também por ele. Assim, pois, quando o discípulo for capaz de entrar no Templo do Saber, encontrará sempre o seu Mestre.
Estas regras expostas são as primeiras que foram escritas nos muros do Templo do Saber. Os que pedem, obterão. Os que desejam ler, lerão. Os que desejam aprender, aprenderão.

Nota — Os que pedem, obterão. Porém, ainda que o homem vulgar peça continuamente, a sua voz não será ouvida, porque só pede com a mente, e a voz da mente não é ouvida, a não ser na esfera onde ela age. Portanto, enquanto não houverem sido aprovados nas 21 regras, não digo que os que pedem obterão.

Ler no sentido oculto, é ler com os olhos do espírito. Pedir é sentir a fome interna, o desejo da aspiração espiritual. Ser capaz de ler, significa ter obtido, em grau mínimo, o poder de satisfazer esta fome. Quando o discípulo se preparou para aprender, então é aceito, reconhecido e admitido. Assim deve ser, pois acendeu a sua lâmpada e esta não pode estar oculta. Porém, é-lhe impossível aprender, enquanto não tiver ganho a primeira grande batalha. A mente pode reconhecer a verdade, mas o espírito não a pode receber.
Uma vez que passou pela tormenta e que chegou à paz, então é sempre possível ao discípulo aprender, conquanto ainda possa duvidar, vacilar e desviar-se. A voz do silêncio mora nele, e ainda que abandonasse por completo o caminho, virá um dia em que ela ressoará e dividi-lo-á em dois, separando as suas paixões das suas possibilidades divinas. Então, no meio do sofrimento e dos gritos desesperados do abandonado eu inferior, ele voltará ao caminho.

Por isso, digo-te: A paz seja contigo.

“A minha paz vos dou”; só o Mestre o pode dizer aos seus amados discípulos, que são Ele mesmo. Alguns há, mesmo entre os que ignoram a Sabedoria Oriental, ao quais se pode dizer isto, e aos quais se pode dizê-lo diariamente com maior precisão.

Texto selecionado pelo irmão Alexsandro Caldas para estudo em Loja realizado em 30 de outubro de 2012.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto de alto valor para a purificação e o aprimoramento do homem.
Muito bom ter tido a oportunidade de lê-lo.
Obrigada!