19.
Busca o caminho, avançando resolutamente para o exterior.
20. Busca-o, mas não em uma direção única.
Para cada temperamento
existe uma via que parece a mais desejável. Porém, só pela devoção
não se encontra o caminho, nem pela mera contemplação religiosa,
nem pelo ardor de progresso, nem pelo laborioso sacrifício de si
mesmo, nem pela estudiosa observação da vida. Nenhuma destas coisas
por si só faz adiantar ao discípulo mais que um passo. Todos os
degraus são necessários para subir a escada. Os vícios dos homens
se convertem em degraus da escada, um a um, à proporção que vão
sendo dominados. As virtudes do homem são, em verdade, degraus
necessários, dos quais se não pode prescindir de modo algum.
Entretanto, ainda que criem uma bela atmosfera e futuro feliz, são
inúteis, se estão isoladas. A natureza toda do homem deve ser
sabiamente empregada por aquele que deseja entrar no caminho. Cada
homem é absolutamente para si mesmo o caminho, a verdade e a vida.
Só o é, porém, quando domina firmemente toda a sua
individualidade, e quando, pela energia de sua acordada
espiritualidade, reconhece que esta individualidade não é ele
mesmo, mas uma coisa que ele criou trabalhosamente para seu uso e por
cujo meio se propõe, à proporção que o seu crescimento desenvolve
lentamente a sua inteligência, alcançar vida além da
individualidade. Quando sabe que para isto existe a sua assombrosa
vida complexa e separada, então, em verdade e só então, se acha no
caminho. Busca-o nas profundidades do mais íntimo do teu ser.
Busca-o provando toda a experiência, utilizando os sentidos a fim de
compreender o desenvolvimento e a significação da individualidade,
a formosura e a obscuridade desses outros fragmentos divinos que
contigo e a teu lado combatem e que formam a raça à qual pertence.
Busca-o estudando as leis do ser, as leis da natureza e as leis do
sobrenatural: e busca-o prosternando a tua alma ante a pequena
estrela que arde no interior. Enquanto vigias e adoras com
perseverança, a sua luz irá sendo cada vez mais brilhante. Então
poderás reconhecer que encontraste o começo do caminho. E quando
chegares ao fim, a sua luz se converterá subitamente em luz
infinita.
Nota — Busca-o
provando toda a experiência, e não te esqueças de que, ao dizer
isto, não digo: cede às seduções dos sentidos a fim de conhecê-las.
Antes de converter-te em ocultista, podes fazê-lo, porém não
depois. Uma vez que tenhas escolhido o caminho e nele penetrado, já
não podes, sem receio, ceder a tais seduções. Podes experimentá-las
sem horror, podes observá-las, medi-las e analisá-las e esperar,
com paciência e confiança, a hora em que nenhuma impressão cause
em ti.
Mas, não condenes o
homem que cede; estende-lhe a mão como a um teu irmão peregrino,
cujos pés se tornaram pesados de lama. Tem presente — ó
discípulo! — que, por grande que seja o abismo que existe entre o
homem virtuoso e o pecador, é ainda maior entre o homem virtuoso e
aquele que obteve o conhecimento; e que é incomensurável entre o
homem virtuoso e aquele que se acha nos umbrais da divindade.
Portanto, guarda-te de imaginar, antes do tempo, que és alguma coisa
distinta da massa!
Quando houveres
encontrado o começo do caminho, a estrela da tua alma deixará ver
sua luz e, com sua claridade, perceberás quão grande é a escuridão
no meio da qual brilha. A mente, o coração, o cérebro, tudo está
escuro e em trevas, até que se tenha ganho a primeira batalha. Mas
não deixes, por isso, que o espanto e o temor te dominem; mantém
teus olhos fixos na pequena luz e esta irá crescendo. Porém, faze
com que a escuridão interior te ajude a compreender a desolação
daqueles que não viram luz alguma e cujas almas estão sumidas em
profundas trevas.
Não os censures nem te
apartes deles; antes, pelo contrário, procura aliviar algum tanto o
pesado Karma que ao mundo oprime; presta tua ajuda aos poucos braços
vigorosos que impedem as potências das trevas de obter uma completa
vitória. Agindo desta forma, começarás a participar da felicidade,
que, em verdade, acarreta um terrível trabalho e uma tristeza
profunda, porém que é também um manancial de delícias sem fim.
21. Busca a flor que desabrocha durante o silêncio que segue à tormenta, e não antes.
A planta crescerá e se
desenvolverá, lançará ramos e folhas, e formará botões enquanto
prossegue a tempestade e perdura a batalha. Mas enquanto a
personalidade toda do homem não tiver sido dissolvida e fundida;
enquanto o divino fragmento que a criou não a manejar como mero
instrumento de experimentação e experiências, enquanto a natureza
toda não tiver sido vencida e se tornado submissa ao Eu Superior, a
flor não poderá abrir-se. Então, sobrevirá uma calma como a que
nos países tropicais sucede a uma chuva torrencial, quando a
Natureza age com tanta rapidez que a sua ação pode ser vista. Uma
calma semelhante se difundirá sobre o espírito fatigado. E no
silêncio profundo ocorrerá o misterioso sucesso, o qual provará
que se encontrou o caminho. Podes chamá-lo como quiseres; é uma voz
que fala onde não há ninguém que fale; é um mensageiro que vem,
mensageiro sem forma nem substância, ou antes é a flor da alma que
se abriu. Não há metáfora que possa descrevê-lo. Mas pode-se
pressentir, procurar e desejar, mesmo no meio da fúria da
tempestade. O silêncio pode durar apenas um momento, ou pode
prolongar-se por milhares de anos, porém, terá fim. Contudo,
reterás contigo a sua força. Uma e outra vez terá que dar e ganhar
a batalha. O repouso da Natureza só pode ser um intervalo.
Nota — O desabrochar
da flor é o glorioso momento em que a percepção se desperta; com
ela nascem confiança, o conhecimento e a certeza. A pausa da alma é
o momento de assombro, e o seguinte momento de satisfação é o
silêncio.
Sabe — ó discípulo!
— que aqueles que passaram pelo silêncio, sentiram a sua paz e
retiveram a sua força, anseiam que passes tu também por ele. Assim,
pois, quando o discípulo for capaz de entrar no Templo do Saber,
encontrará sempre o seu Mestre.
Estas regras expostas
são as primeiras que foram escritas nos muros do Templo do Saber. Os
que pedem, obterão. Os que desejam ler, lerão. Os que desejam
aprender, aprenderão.
Nota — Os que pedem, obterão. Porém, ainda que o homem vulgar peça continuamente, a sua voz não será ouvida, porque só pede com a mente, e a voz da mente não é ouvida, a não ser na esfera onde ela age. Portanto, enquanto não houverem sido aprovados nas 21 regras, não digo que os que pedem obterão.
Ler no sentido oculto, é ler com os olhos do espírito. Pedir é sentir a fome interna, o desejo da aspiração espiritual. Ser capaz de ler, significa ter obtido, em grau mínimo, o poder de satisfazer esta fome. Quando o discípulo se preparou para aprender, então é aceito, reconhecido e admitido. Assim deve ser, pois acendeu a sua lâmpada e esta não pode estar oculta. Porém, é-lhe impossível aprender, enquanto não tiver ganho a primeira grande batalha. A mente pode reconhecer a verdade, mas o espírito não a pode receber.
Uma vez que passou pela
tormenta e que chegou à paz, então é sempre possível ao discípulo
aprender, conquanto ainda possa duvidar, vacilar e desviar-se. A voz
do silêncio mora nele, e ainda que abandonasse por completo o
caminho, virá um dia em que ela ressoará e dividi-lo-á em dois,
separando as suas paixões das suas possibilidades divinas. Então,
no meio do sofrimento e dos gritos desesperados do abandonado eu
inferior, ele voltará ao caminho.
Por isso, digo-te: A
paz seja contigo.
“A minha paz vos
dou”; só o Mestre o pode dizer aos seus amados discípulos, que
são Ele mesmo. Alguns há, mesmo entre os que ignoram a Sabedoria
Oriental, ao quais se pode dizer isto, e aos quais se pode dizê-lo
diariamente com maior precisão.
Texto selecionado pelo irmão Alexsandro Caldas para estudo em Loja realizado em 30 de outubro de 2012.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
Um comentário:
Texto de alto valor para a purificação e o aprimoramento do homem.
Muito bom ter tido a oportunidade de lê-lo.
Obrigada!
Postar um comentário