quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Libertando a mente do temor




O saber escutar é algo muito importante; mas, em geral, temos inúmeras opiniões, ideias, experiências e conclusões antecipadas, através das quais filtramos tudo o que ouvimos, e por essa razão nunca ouvimos nada de maneira nova; traduzimos sempre o que vimos de acordo com uma determinada tendência.  Assim, é de vital importância saber ouvir sem interpretar; porém, isto é, sem dúvida, um problema dificílimo.  Em geral, não gostamos de ouvir coisa alguma de maneira completa, com plena atenção, porque nessa operação descobrimos às vezes o que realmente somos; por isso, costumamos estender cortinas de proteção entre nós e o que nos dizem.


É óbvio, pois, que seria muito bom se fôssemos capazes de ouvir simplesmente, visto termos inúmeros problemas - não só pessoais, como também sociais, políticos, econômicos - para os quais precisamos encontrar a solução correta; e não haverá possibilidade de encontrá-la, se, para tanto, dependemos de alguma opinião, de conhecimentos adquiridos em livros, ou em conferências. Sem dúvida, para acharmos a solução, devemos saber como ouvir o fato, o próprio problema; mas não é isso o que fazemos, quando interpretamos o problema de acordo com as nossas idiossincrasias ou opiniões pessoais.

Há de haver uma solução correta para todos os problemas; mas essa solução não se acha pela análise, pelo julgamento, pela comparação, nem por meio do saber, por mais vasto que seja. Só pode surgir a solução correta quando a mente “escuta” tranquila, quase indiferente, sendo assim capaz de considerar o problema sem qualquer móvel ou intenção especial, sem ter um fim em vista – o que, com efeito, é dificílimo, porque em geral queremos um determinado resultado, uma solução satisfatória.

Para alcançar a solução correta dos problemas humanos, necessitamos de muita paciência, principalmente se já nos habituamos a viver num mundo mecânico, em que é possível descobrir com muita presteza a solução de tantos problemas técnicos. Quando temos um problema, desejamos solução imediata; recorremos então a um livro, a um médico, um analista, um especialista; ou ficamos batalhando dentro em nós mesmos para achar a solução. Somos impacientes, queremos resultados imediatos e vivemos por isso em constante conflito. Nessas condições, ainda que já tenhamos ouvido tudo o que se vai dizer agora, será sem dúvida proveitoso ouvir com muita paciência.

O que importa, naturalmente, é que cada um de nós possa achar um estado perene de libertação de todos os conflitos e das inúmeras reações que tanto caos produzem na mente; e então, talvez, com essa liberdade, venhamos a descobrir algo existente além da nossa mente, mas antes que possamos ser livres, temos, por certo, de compreender o que é o “eu”.  Será possível a vós e a mim mesmo libertarmo-nos de todos os nossos problemas, dos nossos sofrimentos, de nossas incontáveis necessidades?

Ser livre implica solidão completa, - o que significa a libertação do medo. É só então que somos indivíduos, não é verdade? Só somos indivíduos quando cessa completamente o temor: o temor da morte, o temor da opinião alheia, o temor que resulta de nossos próprios desejos e ambições, o temor da frustração, o temor do não-ser. O estar só é, sem dúvida, inteiramente diferente do estar em isolamento. É o próprio isolamento que cria o temor; e como medida defensiva temos um grande número de barreiras, um grande número de ideias, abrigos, garantias.

Em geral, não somos verdadeiros indivíduos, não é exato? Somos o resultado de numerosas influências sociais, das impressões acumuladas, dos problemas interiores que nos oprimem a mente e o coração. Não somos indivíduos, porque não estamos livres do temor; e a mim me parece que, se não estamos livres do temor, nunca encontraremos uma solução verdadeira para qualquer dos problemas humanos.  Pois bem. É-nos possível libertar-nos completamente do temor? E de que temos medo? De estarmos sem segurança, de não termos todas as coisas de que fisicamente necessitamos, das consequências de não nos subordinarmos a determinado sistema político ou religioso, etc.

O desejo de segurança implica temor, em nossas relações. Para sermos capazes de expressar a verdade que vemos, independentemente das ameaças que nos rodeiam requer-se uma grande resolução em nosso pensar, não achais? Pode cada um de nós tornar-se completamente livre do desejo de segurança, que gera temor? Se pudermos compreender profundamente esta questão, acredito, muitos dos nossos problemas serão resolvidos.

Estar liberto do temor é, sem dúvida, a única revolução, porquanto, uma vez livres do temor, já não somos hindus ou americanos, não pertencemos a nenhuma religião organizada, não há mais ambição, desejo de sucesso, de realização, e, por conseguinte, já não estamos empregando a nossa força contra outro. A isenção do temor não é uma ideia, nem tão pouco um ideal que devemos lutar para alcançar; entretanto, quando nos fazemos esta pergunta: “Pode-se ser livre de temor?” – qual é a nossa reação interior?

O temor é um empecilho básico, um obstáculo fundamental em todas as nossas relações e em nossa busca de realidade; e podemos nós – vós e eu – sem sucessivos esforços, sem analisem libertar-nos desse contágio gerador de tantos problemas? Pode-se ser totalmente isento de temor? Esta é uma pergunta difícil de respondermos a nós mesmos, não achais?

Ser livre de temor significa, com efeito, estar isento de todo desejo de segurança econômica ou social, ou do desejo de encontrar segurança em nossa experiência pessoal. Essa questão, sem dúvida, é importantíssima, uma vez que toda a nossa perspectiva das coisas é prejudicada pelo temor; nossa educação, religião, estrutura social, nossos esforços em todas as esferas de ação, estão baseados no temor. E pode alguém ficar livre do temor por meio de algum exercício, de alguma espécie de disciplina, pelo auto-esquecimento, pela imolação de si mesmo, pelo cultivo de qualquer crença ou dogma, ou pela identificação com uma nação qualquer?

É claro que nenhuma dessas coisas nos pode dar a libertação do temor, visto o próprio “processo” de imitação, de submissão, de auto-sacrifício, radicar-se no temor; e ao reconhecermos a inutilidade de tudo isso e percebermos como a mente está sempre ocupada em “projetar” defesas, abrigar-se em crenças e conhecimentos – e em todas essas coisas está sempre emboscado o temor – que devemos fazer? Como pode, então, uma pessoa libertar-se desse estado a que chamamos temor?  Se temos disposições sérias, não acreditais ser esta uma das perguntas fundamentais que devemos fazer a nós mesmos? Desde crianças fomos educados para pensar sempre sob a inspiração do temor; todas as nossas defesas, tanto psicológicas como físicas, se baseiam no temor; e como pode a mente assim educada, condicionada, libertar-se do temor?  Pode a mente libertar-se do temor? Pode qualquer atividade da mente dar liberdade a ela própria? A própria mente, o próprio pensamento, não representa o autêntico processo do temor? E pode o pensamento anular o temor?

Senhores, este não é um problema fácil de resolver; o que cada um de nós pode fazer, porém, é tornar-se bem cônscio do temor, sem lutar contra ele, sem analisá-ló, e, portanto, sem levantar defesas.  E quando a mente se acha de fato muita tranquila, passivamente cônscia de todas as formas de temor que surgem, e sem empreender nenhuma ação contra elas, nessa quietude, existe a possibilidade de se dissolver o temor, sendo esta a única revolução real, fundamental, e, então, há individualidade. Enquanto há temor, não há singularidade, individualidade.

Atualmente, nós, em geral, somos apenas o resultado de influências várias: sociais, econômicas, políticas, climáticas, etc.; não somos genuínos indivíduos e, por conseguinte, não somos criadores. A ação criadora não representa a expressão de um talento, de um dom; só se manifesta quando não existe temor, isto é, quando o indivíduo é completamente independente. Sem dúvida, esta questão de como ser livre é um dos nossos principais problemas, não achais? Talvez, mesmo, seja o nosso único problema; pois é o temor que, dissimulado nos mais íntimos recessos de nossa mente e de nosso coração, nos tolhe o pensar, o ser, o viver.

Parece-me, portanto, que o que se necessita agora não é de mais filosofia, de sistemas melhores, de mais saber e ilustração, mas, sim, de verdadeiros indivíduos, inteiramente livres de temor. Porque só quando não existe temor, pode existir amor.  Ora, podemos nós - vós e eu – empreender a nossa libertação do temor? Podemos rejeitar todas as opiniões, todos os dogmas e crenças, que são meras expressões do temor, e atingir a fonte, o problema fundamental, que é o próprio temor?

Ora, como já disse, a ação criadora não representa um mero talento, um dom, uma capacidade; ela excede em muito tudo isso. Só pode haver ação criadora quando a mente se acha totalmente tranquila, sem os embargos do temor, do julgamento, da comparação, sem a carga do saber e da ilustração.

A maioria de nós, porém, anda sempre com a mente agitada, cheia de problemas, numa eterna busca de segurança; e como pode a mente, em tais condições, ser independente, livre de influências e temores? Como pode ela compreender aquela força criadora, aquela realidade – qualquer que ela seja – ou descobrir se ela existe ou não existe?

Só quando a mente está inteiramente livre de temor há a possibilidade de realizar-se uma revolução fundamental – a qual nada tem em comum com a revolução econômica ou política; e para se ser livre de temor não se requer presteza de raciocínio, mas vigilância constante, e um considerável percebimento, paciente, persistente, do inteiro processo do pensamento, o qual pode ser observado apenas nas relações, em nossas atividades de cada dia.

O autodescobrimento se realiza pela compreensão do que é e o que é é o processo real do pensamento em qualquer momento que passa. Isso, positivamente, é meditação, e requer uma tranquilidade de espírito em que não haja exigência alguma. Somente quando começamos, vós e eu, a conhecer a nós mesmos, a mente pode estar livre de temores, e só então há a possibilidade, não apenas de paz interior, mas de felicidade exterior para o homem.  J. Krishnamurti.

Vídeo e texto selecionado para estudo em Loja realizado em 18 de dezembro de 2012.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

2 comentários:

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