quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O presente vivo

Pergunta: Pelo que posso ver, não há nada de errado com meu corpo ou meu verdadeiro eu. Nenhum deles foi feito por mim e não precisam ser melhorados. O que deu errado é o "corpo interior", chame de mente, consciência, antahkarana, qualquer que seja o nome.

Maharaj: O que você considera estar errado com sua mente?

P: É inquieta, ávida do agradável e temerosa do desagradável.

M: O que há de errado com sua busca pelo agradável e fuga do desagradável? O rio da vida flui entre as margens de dor e prazer. É só quando a mente se recusa a fluir com a vida e se prende as margens, que se torna um problema. Por fluir com a vida quero dizer aceitação - deixar vir o que vem e ir o que vai. Não desejar, não temer, observar o que acontece, como e quando isso acontece, porque você não é o que acontece, você é a quem isso acontece. Afinal, você não é nem mesmo o observador. Você é a potencialidade última da qual a consciência todo abrangente é a manifestação e expressão.

P: Ainda assim, entre o corpo e o self há uma nuvem de pensamentos e sentimentos que não servem nem o corpo nem ao si mesmo. Estes pensamentos e sentimentos são inconsistentes, transitórios e desprovidos de sentido, mera poeira mental que cega e sufoca, mas ainda assim estão lá, obscurecendo e destruindo.

P: Certamente, a memória de um fato não pode passar pelo próprio fato em si. Nem sua antecipação. Há algo de excepcional, único, acerca do fato presente, que o prévio e o vindouro não têm. Há nele uma vivacidade, uma atualidade tal, que destaca como se estivesse iluminado. Há o "selo de realidade" no atual que o passado e o futuro não têm.

P: O que é que dá este "selo de realidade" ao presente?

M: Não há nada de peculiar a este fato presente que faça com que seja diferente do passado e do futuro. Por um momento, o passado esteve presente e o futuro também estará. O que torna o presente tão diferente? Obviamente, a minha presença. Eu sou real, porque eu sou/estou sempre agora, no presente, e o que está comigo agora compartilha a minha realidade. O passado está na memória, o futuro na imaginação. Não há nada no próprio fato presente que o faça se destacar como real. Pode ser uma ocorrência simples, periódica, como o tic-tac de um relógio. Apesar do nosso conhecimento de que as marcações sucessivas são idênticas, o golpe presente é completamente diferente do anterior e do próximo, enquanto lembrado, ou esperado. Uma coisa focada no agora está comigo, pois eu sou/estou sempre presente; é a minha própria realidade que concedo ao fato presente.

P: Mas nós lidamos com coisas lembradas como se fossem reais.

M: Nós consideramos as memórias apenas quando elas chegam ao presente. O que é esquecido não conta até ser relembrado, o que significa trazê-lo ao agora.

P: Sim, posso ver que há no agora algum fator desconhecido que dá realidade momentânea ao transitório presente.

M: Não precisa dizer que é desconhecido, pois você o vê em funcionamento constante. Desde que você nasceu, isso alguma vez mudou? Coisas e pensamentos foram mudando o tempo todo. Mas a sensação de que o que é real é agora nunca mudou, mesmo durante o sonho.

P: No sono profundo não há experiência da realidade presente.

M: O “branco” do sono profundo é inteiramente devido à falta de memórias específicas. Mas há uma memória geral de bem estar. Há uma diferença de sensação quando dizemos "Eu estava profundamente adormecido" e "eu estava ausente."

P: Vamos repetir a pergunta com que começamos: entre a fonte da vida e a expressão da vida (o corpo), há a mente e seus estados em constante mudança. O fluxo de estados mentais é interminável, sem sentido e doloroso. A dor é o fator constante. O que chamamos de prazer é apenas uma lacuna, um intervalo entre dois estados dolorosos. Desejo e medo são a urdidura e a trama do viver, e ambos são feitos de dor. Nossa pergunta é: pode haver uma mente feliz?

M: O desejo é a memória do prazer e o medo é a memória da dor. Ambos fazem a mente inquieta. Os momentos de prazer são apenas lapsos no fluxo de dor. Como a mente pode ser feliz?

P: Isso é verdade quando desejamos prazer ou esperamos dor. Mas há momentos inesperados, imprevistos de alegria. Pura alegria, não contaminada pelo desejo. Não procurada, imerecida, dada por deus.

M: Ainda assim, alegria é alegria somente sobre um fundo de dor.

P: A dor é um fato cósmico, ou puramente mental?

M: O universo é completo e onde há plenitude, onde não falta nada, o que pode causar dor?

P: O universo pode estar completo como um todo, mas incompleto nos detalhes.

M: Uma parte do todo vista em relação com o todo também está completa. Apenas quando vista isoladamente, torna-se deficiente e, portanto, uma fonte de dor. O que leva ao isolamento?

P: As limitações da mente, é claro. A mente não pode ver o todo na parte.

M: Tudo bem. A mente, por sua própria natureza, divide e opõe. Pode haver alguma outra mente, que una e harmonize, que veja o todo na parte e a parte como totalmente relacionada com o todo?

P: A outra mente - onde buscá-la?

M: Indo além da mente que limita, divide e se opõe. Terminando o processo mental como o conhecemos. Quando isso chegar ao fim, essa mente nasce.

P: Nessa mente não existe o problema de alegria e tristeza?

M: Não como nós os conhecemos, como desejáveis ou repugnantes. Torna-se mais uma questão de amor buscando expressão e encontrando obstáculos. A mente inclusiva é amor em ação, lutando contra as circunstâncias, inicialmente frustrada, mas ao final vitoriosa.

P: Entre o espírito e o corpo, é o amor que fornece a ponte?

M: O que mais? A mente cria o abismo, o coração atravessa.


Extraído do livro Yo soy eso, de Sri Nisargadatta Maharaj, tradução livre.  Texto selecionado pela irmã Eliane Zaranza para estudo em Loja realizado em 05.02.2013.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

Um comentário:

Anônimo disse...

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