quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Quem se importa?









Todo mês, fielmente, o discípulo enviava ao mestre um relato de seu progresso espiritual.

No primeiro mês, escreveu:  “Sinto uma expansão de minha percepção e sinto minha união com o universo”.  O mestre relanceou os olhos pela nota e a jogou fora.

No mês seguinte eis o que o discípulo tinha a dizer:  “Finalmente, descobri que o divino está presente em todas as coisas”.  O mestre pareceu desapontado.

Na terceira carta, o discípulo explicou com entusiasmo:  “O mistério do Único e dos muitos foi revelado a meu olhar admirado”.  O mestre bocejou.

A carta seguinte dizia:  “Ninguém nasce, ninguém vive e ninguém morre, pois a individualidade não existe”.  Desesperado, o mestre ergueu as mãos para o céu.

Depois disso, passou-se um mês, passaram-se dois, cinco, passou-se todo o ano.  O mestre achou que estava na hora de lembrar ao discípulo o dever de mantê-lo informado de seu progresso espiritual.  O discípulo escreveu em resposta:  “Quem se importa?”  Quando o mestre leu essas palavras, um olhar de satisfação iluminou-lhe o rosto.  Disse ele: "Graças a Deus, ele entendeu!”

Até o anseio de liberdade é uma servidão.  Você é tão verdadeiramente livre, que já não lhe importa se é livre ou não?  Só os contentes são livres.


Extraído de “O enigma do iluminado – Histórias de todos os tempos para meditação Vol. 2”, de Anthony de Mello, p. 217, 3ª ed., Loyola, São Paulo, 2000.  

Nenhum comentário: