quinta-feira, 28 de maio de 2015

A Luz da Ásia

Por Edwin Arnold

Os pastores e o Príncipe Sidarta chegaram juntos à cidade, na hora em que dourava o sol com seus raios poentes. Os soldados do Rei faziam sentinela, e quando viram Nosso Senhor Buda os guardas retrocederam, e as pessoas reunidas no mercado perguntavam: quem é este homem que traz as ovelhas do sacrifício, com um ar tão cheio de graça e que derrama paz por onde passa, e tem olhos tão doces? É o santo homem que habita com os Ríshis na montanha. Porém, o Senhor passou, absorto em suas meditações. Então, alguém disse ao Rei: "Acaba de chegar aqui um santo ermitão, conduzindo o rebanho que condenaste para coroar teu sacrifício."

0 Rei se encontrava na sala dos holocaustos. Os Brâmanes, com trajes brancos, à seu lado, recitavam seus mantrans, avivando o fogo que crepitava no altar, colocado no meio da sala. As línguas claras das chamas saltavam das madeiras perfumadas. Ao redor da pira, um arroio espesso e lento, de cor escarlate, fumegava e corria, absorvido pela areia: era o sangue das gazelas que ainda há pouco bailavam nos campos. Uma delas, uma cabra com grandes chifres, estava estendida com a cabeça atada para traz. Um sacerdote apoiou a faca no seu pescoço esticado, murmurando: "Eis aqui, ó deuses terríveis, o princípio dos numerosos sacrifícios, oferecidos por Bimbisara; regozijai-vos vendo correr o sangue e gozai com a fumaça da carne tostada nas chamas ardentes; fazei com que os pecados do Rei sejam transferidos a esta cabra, e que o fogo os consuma ao queimá-la; vou dar o golpe fatal!"

Porém, Buda disse docemente: "Não o deixeis ferir, grande Rei!" E, ao mesmo tempo, desatou os laços da vítima, sem que ninguém o detivesse, tão imponente era seu aspecto. Então, depois de haver pedido permissão, falou da vida que todos podem tirar, mas ninguém pode dar; da vida que todas as criaturas amam e pela qual lutam; a vida, esse dom maravilhoso, caro e agradável a todos, mesmo para os mais humildes; sim, um dom precioso para todas as criaturas que sentem piedade, porque a piedade faz o homem doce para com os débeis e nobres para com os fortes. Emprestou às mudas bocas do seu rebanho palavras enternecedoras para defender sua causa; demonstrou que o homem que implora a clemência dos deuses não tem misericórdia, ele que é como um deus para os animais; fez ver que tudo o que tem vida está unido por um laço de parentesco, e que os animais que matamos, deram o doce tributo do seu leite e de sua lã, colocaram sua confiança nas mãos dos que os matam. O sacrifício seria um novo pecado. Ninguém pode purificar com sangue seu espírito; se os deuses são bons, não podem comprazer-se com o sangue derramado; e se são maus, não podem lançar sobre a cabeça de um animal amarrado o peso dos pecados e erros, pelos quais se deve responder pessoalmente. Cada um deve dar conta de si próprio... segundo seus atos, suas palavras e seus pensamentos; esta lei exata, implacável e imutável vigia eternamente e faz com que todos os futuros sejam frutos dos passados. Falou assim com palavras tão misericordiosas e com tal dignidade, inspirado pela compaixão e a justiça, que os sacerdotes se despojaram dos seus ornamentos e lavaram suas mãos vermelhas de sangue, e o Rei, aproximando-se, o saudou com as mãos juntas.

Entretanto, Nosso Senhor continuou ensinando quão feliz seria a terra se todos os seres estivessem unidos pelos laços da benevolência e não se alimentassem senão de coisas puras, sem derramamento de sangue; os grãos dourados, os frutos brilhantes, as ervas saborosas que brotam para todos, as pacíficas águas, bastariam para alimentar e saciar todo o mundo. Tanto convenceu aos sacerdotes o poder das suas nobres palavras que eles próprios derrubaram seus altares inflamados e lançaram longe a faca do sacrifício. No dia seguinte, foi proclamado um decreto pelos arautos, em todo o reino, que foi gravado sobre as rochas e colunas, nos seguintes termos: "Eis aqui a vontade do Rei: Até agora se tem dado a morte a animais para oferecê-los em sacrifício e para a alimentação; porém, a partir de hoje, ninguém derramará o sangue de um ser vivo, nem comerá sua carne porque já sabemos que a vida é única e que a misericórdia está reservada para os misericordiosos. Tal foi o édito promulgado; e desde aquela época uma doce paz reinou sôbre tôdas as criaturas: o homem, os animais e os pássaros, sobre aquelas praias do Ganges, onde nosso Senhor pregou a paz com doce linguagem e santa piedade. 


Texto selecionado para leitura no Dia do Lótus Branco em 08.05.15

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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