A voz dos Candidatos: Não quererás tu, Mestre de tua própria Misericórdia, revelar a Doutrina do Coração? Recusar-te-ás guiar teus servos até a Senda da Libertação?
As Sendas são duas; as grandes Perfeições três; seis são as virtudes que transformam o corpo na Árvore do Conhecimento. Quem se aproximará delas? Quem entrará nelas primeiro?
Quem ouvirá primeiro a doutrina das duas Sendas em uma, a verdade revelada sobre o Coração Secreto? A Lei que, evitando a erudição, ensina a Sabedoria, revela uma história de tribulações.
Ai, ai, que todos os homens possuam Âlaya, sejam unos com a grande Alma, e, possuindo-o, Âlaya lhes aproveite tão pouco? Repara como, tal qual a lua se reflete nas ondas tranquilas, Âlaya é refletido pelos pequenos e pelos grandes, espelha-se nos átomos mais tênues, e, contudo, não logra chegar ao coração de todos. Ai, que tão poucos sejam os homens que aproveitam do dom, da inapreciável dádiva de aprender a verdade, a exata percepção das coisas existentes, o Conhecimento do não-existente!
Diz o discípulo: Ó Mestre, que farei eu para alcançar a Sabedoria? Ó Sábio, que farei eu para conseguir a Perfeição?
Procura as Sendas. Mas, ó Lanu, sê limpo de coração antes de empreenderes a viagem. Antes de dar o primeiro passo, aprende a discernir o real do falso, o fugaz do permanente. Aprende sobretudo a separar a erudição da cabeça da sabedoria da Alma, a doutrina do “Olho” da doutrina do “Coração”.
Sim, a ignorância é qual redoma fechada e sem ar, e a alma, um rouxinol dentro dela. A ave canora não gorjeia nem pode mover uma pena, mas emudece e entorpece, e morre de exaustão. Mesmo a ignorância é preferível à erudição da Cabeça sem a Sabedoria da Alma para iluminar e guiar.
As sementes da Sabedoria não podem brotar nem crescer num vácuo sem ar. Para viver e colher experiências, a mente necessita de amplitude e profundidade, e pontos que atraiam a Alma para a Alma de Diamante. Não procures estes pontos no reino de Mâyâ; mas voa alto, além das ilusões, busca o eterno e imutável SAT, desconfiando das falsas insinuações da fantasia.
Pois a mente é qual um espelho: colhe pó enquanto reflete. São necessárias as suaves brisas da Sabedoria da Alma para limpar o pó de nossas ilusões. Procura, ó Principiante, fundir tua Mente e Alma. Foge da ignorância e da ilusão também. Vira o rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles são falsos. Mas dentro de teu corpo – o santuário de tuas sensações – busca no Impessoal o “homem eterno” e tendo-o procurado fora, olha para dentro: tu és Buda.
Evita os elogios, ó Devoto. Os elogios conduzem à auto-ilusão. Teu corpo não é o eu; teu EU é em si sem corpo, e não o afetam elogios nem censuras. O autoconvencimento, discípulo, assemelha-se a uma elevada torre, à qual subiu um louco soberbo. Ali se senta em orgulhosa solidão e despercebido de todos, menos de si próprio.
A falsa erudição é rejeitada pelos Sábios, e espalhada aos ventos pela boa Lei, cuja roda gira para todos, humildes e soberbos. A “Doutrina do Olho é para a multidão; a “Doutrina do Coração”, para os eleitos. Os primeiros repetem orgulhosos: “Vejam, eu sei”; os últimos, os que humildemente têm colhido, em voz baixa confessam: “Assim ouvi”.
“Grande Peneiradora” é o nome da “Doutrina do Coração”, ó discípulo. A roda da boa Lei gira rapidamente. Mói dia e noite. Separa do doirado grão as cascas inúteis, e da farinha o farelo. A mão do Karma guia a roda, cujas rotações marcam as palpitações do coração kármico.
O verdadeiro conhecimento é a farinha, a falsa erudição é a casca. Se queres comer o pão da Sabedoria, tens de amassar a tua farinha com as águas límpidas de Amrita. Mas se amassas cascas com o orvalho de Mâyâ, não poderás criar mais que alimento para as negras pombas da morte, as aves do nascimento, decadência e tristezas.
Se te dizem que para te tornares Arhan tens de cessar de amar todos os seres –dize-lhes que mentem. Se te dizem que para obter a libertação tens que detestar tua mãe e desprezar teu filho; de renegar teu pai e chamá-lo “dono de casa”; de renunciar a toda compaixão pelos homens e animais – dize-lhes que é falsa a sua linguagem.
BLAVATSKY, Helena. A Voz do Silêncio, aforismos 101-124, Ed. Pensamento.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
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