quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O olho de Dangma (3)

Observemos que na citação anterior H.P.B. coloca mais ênfase em 'perceber' do que em 'ver'. Podemos adquirir essa percepção, embora ainda muito distante, quando erguemos a cabeça e contemplamos o céu na noite escura . Aquele espaço infinito que se estende eternamente em todas as direções não pode ser compreendido, não pode ser conhecido, está além da extensão e do alcance da concepção e do pensamento. Mas, mesmo assim ele pode ser percebido, e essa percepção pode trazer um sentimento de intensa admiração nas profundezas insondáveis do nosso ser quando nos curvamos perante aquele Mistério incognoscível. Podemos ter uma percepção daquilo que não pode ser entendido, mesmo não podendo conhecê-lo diretamente. O que mais senão essa percepção do Infinito pode explicar adequadamente aquela frase no Elixir da Vida?

"Meditação é o anseio inexprimível do Homem Interno para 'sair para o infinito', que antigamente era o verdadeiro significado de adoração."

Na Stanza 5, Sloka 4, podemos constatar que há uma clara distinção entre 'perceber' e 'ver'. O Mestre pergunta ao aluno:

"Levante tua cabeça, oh Lanoo; tu vês uma luz, ou incontáveis luzes sobre tu, queimando no céu da meia-noite?"

"Eu percebo uma Chama, oh Gurudeva; eu vejo destacadas e incontáveis chispas brilhando nisto".

"Tu disseste bem. E agora dá uma olhada ao redor e em ti mesmo. Aquela luz que queima dentro de ti, tu a sentes diferente de algum modo da luz que brilha em teus Irmãos-homens"?

"Não é de forma alguma diferente. Entretanto, o prisioneiro é mantido na escravidão por Karma, e seus artigos de vestuário exteriores iludem o ignorante dizendo, tua Alma e Minha Alma. " (SD I, p. 120)

Podemos notar de passagem que ainda em nossa abordagem, colocamos grande ênfase no poder do pensamento; na passagem acima o que conta é aquilo que é percebido e sentido - este último não insinua emoções, na realidade é totalmente o oposto. O que é percebido e sentido acima é uma experiência direta, até certo ponto, da Unidade. Pensamentos e emoções normalmente são sobre algo, e assim descansa na experiência de dualidade, até mesmo quando estes pensamentos e emoções são sobre a Unidade.

Se voltarmos ao simbolismo na primeira página do Proêmio, podemos perguntar: "O que então é 'aquilo' que é percebido? O que é aquele conhecimento certo que está disponível através do olho espiritual interno do vidente?" É a nebulosa região negra, a sempre incognoscível PRESENÇA? Ou é a superfície do círculo, simbolizando a Alma Universal? É inevitável perceber que ambos estão sendo aludidos no texto. Podemos entender da seguinte maneira: Isto é a Onipresença, sempre incognoscível (portanto simbolizada pela nebulosa região negra), que é percebida pelo 'olho aberto'. O conhecimento direto e certo atingido pela faculdade de intuição espiritual deriva da Alma Universal, na qual a manifestação manvantárica começa e dentro da qual permanece escondido o Pensamento Divino. O último, sabemos, contém o plano de toda a cosmogonia futura, isto é, de tudo aquilo que se manifestará no(s) próximo(s) Manvantara(s). Embora esse Conhecimento seja tão vasto, por conter a totalidade de tudo aquilo que é vir a ser, reconhecemos que ele ainda é limitado em relação à sempre incognoscível Presença; assim H.P.B. escreve:

"Portanto a face do Disco, que sendo branca e a região ao redor negra, mostra claramente que sua superfície é o único conhecimento, ainda que seja obscuro e brumoso, que é atingível pelo homem." (SD I, p.1)

Assim, o que tudo isso significa para o estudante da Doutrina Secreta? Poderíamos dizer que, se nossas reflexões e contemplações sobre o conhecimento contido na Doutrina são para produzir frutos, eles têm de acontecer dentro da região daquela Onipresença. Em outras palavras, nossos esforços para entender devem ser fundamentados na VIDA UNA, a Unidade de TUDO em TODOS. Sugere-se, então, que a habilidade para perceber a Onipresença é um pré-requisito para a faculdade da intuição espiritual operar. Porém, sabemos que esta faculdade só é desenvolvida completamente no mais alto Adepto. Isto significa, então, que tudo está perdido para nós até que alcancemos aquele estágio? Nesse caso apliquemos a máxima "como é em cima assim é embaixo" e vejamos o que podemos encontrar. Lemos na página 1 que: "O círculo único é a Unidade Divina da qual tudo procede, para onde todos retornam". Esta Unidade Divina, simbolizada pelo círculo único, é assim o alfa e o ômega de toda a existência. Baseados no princípio de "como é em cima assim é embaixo", podemos deduzir que o que é atingido no último passo (isto é, o do mais alto Adepto) também é o que é requerido no primeiro passo. Ou, colocando de outro modo: "o primeiro será o último". Assim, sentir aquela Onipresença, aquela Unidade total que tudo abarca, é o ponto de partida, não apenas o fim. A importância de se entender é enfatizada no Catecismo OCulto (citação da p. 120), onde o Mestre pergunta para o discípulo:


"Olhe ao redor e em ti mesmo. Aquela luz que queima em ti, tu a sentes diferente em alguma maneira da luz que brilha em teus Irmãos-homens?"

"Fraternidade não é uma frase inútil”, diz o Mestre. Pois se nós não temos aquele sentimento de Unidade, o percebimento da Fraternidade Universal, aquele percebimento da Unidade subjacente com toda a Vida, então nossos estudos vacilarão. Na melhor das hipóteses eles podem apenas ficar estéreis; na pior, estudar a Doutrina Oculta sem este sentido de Unidade pode conduzir nossos passos, embora inconscientemente, para o caminho da mão esquerda. Como H.P.B. indica pelo simbolismo na p. 5: uma vez completamente separada, forma seu Círculo aquilo que é encontrado e tão facilmente transforma-se no sinal de feitiçaria humana - a estrela de cinco pontas invertida.

O Mestre M. escreve: "Somente aquele que tem o amor da humanidade no coração é capaz de compreender completamente a idéia de uma Fraternidade prática e regeneradora, e está autorizado a possuir os nossos segredos." (Cartas dos Mahatmas XXXVIII)

Tradução: MST Jina

Extraído do site http://www.lojajinarajasa.com

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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