quarta-feira, 2 de março de 2011

Morrer e viver (1)

Pergunta: Deve haver uma maneira de aprender a morrer. Aprender a morrer é de enorme importância para cada um de nós.

Krishnamurti: Como respondem a esta questão os tradicionalistas e os profissionais? E por profissionais entendo os gurus, os Shankaracharyas, os Adi Sankaracharyas, os iogues.

P: A tradição divide a vida em várias etapas. Brahmacharya é a etapa do celibato quando se é aluno e se aprende com um guru. A segunda etapa é o Grihastha, em que o homem se casa, tem filhos, procura acumular riquezas, e assim por diante. Também mantém o sannyasi e os filhos, e, portanto, provê a sociedade. Na terceira etapa, o Vanaprashta, o homem se afasta da busca das coisas mundanas e enfrenta a etapa de preparação para a etapa final, que é o Sannyasa, fase em que ele renuncia ao nome, ao lar, à identidade – e se veste simbolicamente com a túnica cor de açafrão. Também existe uma crença de que no momento da morte, aparece no foco da consciência todo o passado do homem. Se o seu karma – as ações de sua vida – foi bom, então este último pensamento que ele conserva no momento de morrer continuará depois da morte. Ele será transferido para a vida seguinte. Os tradicionalistas também sustentam a necessidade essencial da mente estar quieta no momento da morte, de modo que o karma seja extinto, que a mente chegue a esse momento completamente desperta.

Krishnamurti: Um homem tradicional passará por tudo isso ou trata-se apenas de um montão de palavras?

P: Geralmente, senhor, para o hindu ortodoxo canta-se o Gita no momento da morte para que a sua mente rompa com o imediatismo da família, com o pavor, com as riquezas e assim por diante. Isso não responde à minha pergunta: de que modo o indivíduo precisa aprender a morrer?

Krishnamurti: Pegue uma folha na primavera. Veja como ela é delicada. E mesmo assim que força ela tem para resistir ao vento! No verão, fica madura. No outono, fica amarela e depois morre. É uma das coisas mais bonitas de se ver. Cada coisa é um movimento da beleza, do vulnerável. A jovem folha fica madura, conhece o verão e quando chega o outono, ela fica da cor de ouro. Jamais existe o sentimento de fealdade, ela nem murcha no meio do verão. É o movimento perpétuo da beleza para beleza. Existe plenitude tanto na folha da primavera como na folha que morre. Não sei se você já viu isso. Por que o homem não pode viver e morrer dessa maneira? O que é aquilo que se destrói do começo até o fim? Olhe para um menino de dez, doze ou treze anos, cheio de entusiasmo e alegria. Aos quatorze anos, ele se torna rude e vulgar, muda a fisionomia e todo o seu jeito de ser. Está preso a um padrão. Como alguém pode aprender a viver e a morrer, e não só a morrer? Como se aprende a viver uma vida da qual a morte seja uma parte, uma vida em que o final - o morrer - seja uma parte inata do viver?

P: De que modo a morte é uma parte inata da vida? Morrer é algo que está no futuro, no tempo.

Krishnamurti: É justamente disso que se trata. Colocamos a morte além dos muros, fora do movimento da vida. A morte é algo a ser evitado, algo do qual se deve fugir, algo em que não se deve pensar. A pergunta é: o que é viver e o que é morrer? As duas coisas devem estar juntas, não separadas. Por que as separamos?

P: Porque a morte é uma experiência completamente diferente da vida. Não se conhece a morte.

Krishnamurti: É por isso? Minha pergunta é: por que temos que separar as duas? Por que existe um imenso abismo entre as duas? Qual é a razão para os seres humanos separá-las?

KRISHNAMURTI, J. Tradición y Revolución, pp. 29-30. Tradução livre por Lucio Saens, Ana Cristina Moura, Roberto C. de Paula e Eliane Zaranza, para estudo em Loja realizado em 1º de março de 2011.


"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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