![]() |
Sem
bondade e amor, não somos educados (1)
Sentado
numa plataforma elevada ele tocava um instrumento de sete cordas para uma
pequena plateia familiar com um tipo de música clássica. Estavam sentados no
chão diante dele; de uma posição às suas costas era tocado outro instrumento de
apenas quatro cordas.
Era um homem jovem, mas mestre total das sete cordas e
da complexa música. Ele improvisava antes de cada canção; depois vinha a
composição, sobre a qual haveria mais improviso. Jamais ouviríamos alguma
daquelas músicas executada duas vezes da mesma maneira. As letras eram fixas,
mas dentro de determinada composição havia grande latitude, e o artista podia
improvisar segundo o seu coração; e quanto mais variações e combinações, maior
o músico. Nas cordas, palavras não eram possíveis; mas todos que lá estavam
conheciam as letras e se extasiavam com elas. Com cabeças meneando e mãos
gesticulando com graça, eles seguiam o ritmo perfeitamente e o marcava com
uma leve palmada na perna.
O músico fechara os olhos e se achava completamente
absorto em sua liberdade criativa, e na beleza do som; sua mente e seus dedos
estavam em perfeita coordenação. E que dedos! Delicados e rápidos, pareciam
ter vida própria. Só se tornavam quietos
e relaxados ao fim da música numa nota particular; mas, com incrível rapidez,
logo começavam uma nova melodia, em tonalidade distinta. Quase nos hipnotizavam
com sua graça e ligeireza de movimento. E as cordas que sons lindos emitiam!
Eram pressionadas pelos dedos da mão esquerda na tensão apropriada, ao passo
que a mão direita as dedilhava com facilidade e controle magistral.
A
lua era clara do lado de fora, e as sombras escuras estavam imóveis; o rio se
via logo após a janela, um fluxo de prata em contraste com as árvores escuras e
silenciosas da outra margem. Uma coisa estranha acontecia no espaço que é a mente.
Ela vinha observando os movimentos graciosos dos dedos, ouvindo os doces sons,
observando as cabeças que se moviam suavemente e as mãos rítmicas da plateia
silenciosa. Subitamente, o observador, o escutador, desapareceu; ele não fora
induzido à suspensão pelas melódicas cordas, mas estava totalmente ausente.
Havia apenas o vasto espaço que é a mente.
Todas
as coisas da Terra e do homem estavam nela, mas se encontravam em seus limites
exteriores, fracas e remotas. Dentro do espaço no qual nada havia, existia um
movimento, e o movimento era a quietude. Era um movimento profundo e vasto, sem
direção, sem motivo, que começava nos limites externos e avançava com incrível força ao centro - um
centro que se encontra em toda parte no interior
da quietude, no interior do movimento que é o espaço. Esse centro é total solitude,
incontaminada, incognoscível, uma solidão que não é isolamento que não tem fim
nem começo. É completa em si mesma, não é inventada; os limites externos estão
nela, mas não lhe pertencem. Ela está lá, mas não no interior do escopo da
mente humana. É o todo, a totalidade, mas não é abordável.
Havia
quatro deles, todos rapazes que tinham aproximadamente a mesma idade, entre 16
e 18 anos. Bastante tímidos, eles precisavam de persuasão, mas, uma vez que
começaram, mal podiam parar e suas perguntas ansiosas saíam aos borbotões. Dava
para notar que eles haviam conversado sobre tais assuntos entre si com antecedência
e prepararam perguntas por escrito; mas, após a primeira ou a segunda, esqueceram
o que haviam redigido, e suas palavras fluíam livremente dos próprios e
espontâneos pensamentos. Embora não fossem filhos de pais abastados, eram
imaculados e asseados em seu vestir.
"Quando
conversou com os estudantes, há dois ou três dias", começou o mais
próximo, "o senhor disse algo sobre como a educação correta é necessária
para que sejamos capazes de encarar a vida. Debatemos esse tema entre nós, mas
não compreendemos muito bem."
Que
tipo de educação vocês têm agora?
"Ah,
estamos na faculdade, e aprendemos as coisas habituais que são necessárias para
determinada profissão", ele respondeu. "Eu serei engenheiro; meus
amigos aqui estudam física, literatura e economia, respectivamente. Estamos
cursando o plano de estudos prescrito e lendo os livros indicados, e quando
temos tempo, lemos um ou outro romance, mas afora os esportes estudamos a maior
parte do tempo."
Vocês
acham que isso é suficiente para terem boa educação para a vida?
"Pelo
que o senhor disse, não", replicou o segundo. "Mas isso é tudo que
temos, e achamos que, de modo geral, estamos sendo educados de modo
geral."
Aprender a ler e escrever apenas, cultivar a memória
e passar em algumas provas, adquirir certas capacidades ou habilidades para
conseguir um emprego - isso e educação?
"Mas
isso não é necessário?"
Sim,
preparar-se para ter um meio correto de ganhar o sustento é essencial; mas não
é o todo da vida. Há também o sexo, a ambição, a inveja, o patriotismo, a
violência e muitas outras coisas. Vocês estão sendo educados para encarar essa
vasta coisa chamada vida?
"Quem
pode nos educar?", perguntou o terceiro.
"Nossos
mestres e professores parecem indiferentes. Alguns são inteligentes e cultos,
mas nenhum dedica qualquer pensamento a esse tipo de coisa. Somos empurrados para
a frente, e teremos sorte se conseguirmos obter nossos diplomas; tudo está se
tornando bem difícil."
"Exceto
por nossos impulsos sexuais, que são bastante definidos", disse o
primeiro, "não sabemos nada da vida; todo o resto parece vago e remoto.
Ouvimos nossos pais reclamando de falta de dinheiro, e percebemos que eles
estão presos em certas rotinas pelo resto de seus dias. Assim, quem pode nos
ensinar sobre a vida?"
Ninguém
pode lhes ensinar, mas vocês podem aprender. Há uma vasta diferença entre
aprender e ser ensinado. Aprender acontece ao longo da vida, ao passo que ser
ensinado acaba dentro de algumas horas ou anos - e depois, pelo resto de sua
vida, vocês repetirão aquilo que lhes foi ensinado, que logo se torna cinzas mortas;
e assim a vida, que é algo vivo, torna-se um campo de batalha de esforços vãos.
Vocês são atirados na vida sem tranquilidade ou oportunidade para compreendê-la;
antes que saibam qualquer coisa sobre a vida, já estão bem no meio dela, casados,
amarrados a um emprego, com a sociedade implacavelmente esbravejando a seu
redor. Deve-se aprender sobre vida desde a mais tenra infância, e não no último
instante; quando já estão chegando à idade adulta; é quase tarde demais.
Vocês
sabem o que é a vida? Ela se estende do momento em que nascem ao momento em que
morrem, e talvez além. A vida é um todo vasto e complexo; é como uma casa em
que tudo está acontecendo a um só tempo. Vocês amam e odeiam; são cobiçosos,
invejosos e ao mesmo tempo, sentem que não deveriam ser. São ambiciosos, e há
frustração ou sucesso, seguindo o rastro da angústia, do medo e da crueldade;
e, cedo ou tarde, chega o sentimento da futilidade de tudo isso. E há os
horrores e a brutalidade da guerra, e a paz pelo terror; há o nacionalismo e a
soberania, que apoiam a guerra; há a morte ao fim da estrada da vida, ou em
algum ponto no meio dela. Há a busca por Deus, com suas crenças em conflito e
as disputas entre religiões organizadas. Há o esforço para conseguir e manter
um emprego; há casamento, filhos, doença e o jugo da sociedade e do Estado. A
vida é tudo isso, e muito mais; e vocês são atirados nessa bagunça. Em geral,
afundam nela, infelizes e perdidos; e se vocês sobrevivem subindo até o alto
da escala, ainda são parte da bagunça. Isso é o que chamamos vida: perpétuo
esforço e dor, com um pouco de alegria ocasional. Quem lhes ensinará tudo
isso? Ou melhor, como vocês aprenderão sobre ela? Mesmo que tenham capacidade e
talento, são atormentados por ambição, pelo desejo de fama, com suas
frustrações e infelicidades. Tudo isso é vida, não é assim? E ultrapassar tudo
isso também é vida.
Texto selecionado para estudo em Loja realizado em 03.09.13.
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
Nenhum comentário:
Postar um comentário