Por Dennis Waite
Estamos completamente inconsciente de nossa verdadeira natureza, porque nos identificamos com nosso corpo, nossas emoções e nossos pensamentos, perdendo de vista o nosso centro imutável, que é pura consciência. Quando retornamos para nossa verdadeira natureza, nossos pensamentos e percepções não mais aparecem como modificações de uma única substância, eles passam a existir e desaparecem como ondas do oceano. (Jean Klein - Be Who You Are)
Advaita é uma filosofia supremamente lógica. Há uma série de procedimentos ou métodos sistemáticos, chamados prakriyas em sânscrito. Cada um deles começa com a nossa experiência real aqui e agora, não nos pedindo para acreditar em qualquer coisa que contradiga essa experiência ou para colocar nossa fé em deuses que estão inteiramente além dela. Assim, há uma srrishti prakriya para discutir a natureza da criação e uma análise da relação entre causa e efeito, o Karana-Karya-prakriya - estes serão analisados em detalhe no Capítulo 7. Existe a avastha-traya-prakriya para analisar os três estados de consciência - consulte o Capítulo 6. A função desses métodos não é aprender sobre o tema do método, mas ver que o tema está concebido de modo errôneo. Assim, ao examinar a criação, descobrimos que nunca houve uma criação. O resultado líquido de todas essas investigações é a percepção de que não há nada que não seja Brahman.
Neste capítulo, nós olhamos para o mais fundamental destes métodos - a discriminação entre o vidente e o visto, drrigdrrishya-prakriya, a fim de descobrir quem não somos. Parece que estou aqui, enquanto você e a mesa estão lá - claramente a aparência de separação. Podemos perceber que não somos os objetos que vemos - saímos da sala e não podemos mais vê-los, mas nós continuamos a existir. Igualmente, não somos as outras pessoas que vemos. Mas o mesmo argumento se estende a nossos próprios corpos e sentidos - podemos perder partes de nossos corpos e até mesmo ficarmos cegos ou surdos, mas "nós" permanecemos. Também nós não somos os pensamentos ou emoções, que vêm e vão. Nós não somos a mente - continuamos a existir mesmo quando suas operações cessam durante o sono profundo ou sob anestesia. Mesmo o eu pensamento é apenas isso - uma outra idéia. O único aspecto constante em tudo isso é a consciência, de modo que é o que eu devo ser - não um objeto, mas o sujeito último. Mas eu nunca posso descrevê-la porque tudo o que eu poderia usar em tal descrição é em si um objeto da consciência e, portanto, já foi negado.
Existe, portanto, um processo de negar todos esses aspectos que pensamos que somos, até que o que resta e não pode ser negado deve ser o verdadeiro Self. Uma frase especial é utilizada para descrever o processo. Ela é chamada de "discriminação entre o vidente e o visto" (drrigdrrishya-viveka). Este é o título de um livro curto (prakarana grantha) atribuído a Shankara, que abre com a seguinte declaração:
A forma é percebida e o olho é o seu percebedor. O olho é percebido e a mente é o seu percebedor. A mente com suas modificações é percebida e a Testemunha (o Self) é verdadeiramente o que percebe. Mas a testemunha não é percebida por qualquer outro.
O exercício que normalmente é associado a ele é dizer: "não é isto, não é isto" em relação a qualquer coisa que nós percebemos ou pensamos que podemos ser - "neti, neti" em sânscrito.
Provavelmente a mais antiga ocorrência conhecida desta expressão é no Brihadaranyaka Upanishad. Ele reconhece que nenhuma descrição direta da verdade, de quem realmente somos, é possível. As quatro "grandes declarações" ou Mahavakyas dos Upanishads são: "A consciência é Brahman", "Isso és tu", "este Self é Brahman" e "Eu (o Self) sou Brahman." Estas "grandes declarações" juntas contêm o sentido último de todos os Upanishads. Todas as outras frases são chamadas avantara vakyas – informações subsidiárias que não dão conhecimento libertador.
Brahman é o que realmente somos, mas está além da descrição. O Upanishad Brihadaranyaka II.3.6 e III.9.26 afirma:
Agora, a descrição de Brahman: "Não é isto, não é isto”. Porque não há outra descrição mais apropriada do que esta "Não é isto." E seu nome é: "Verdade da verdade". A força vital é a verdade, e Isso é a Verdade dela.
Este Self é Aquilo que tem sido descrito como "Não é isso, nem isso." É imperceptível, pois nunca é percebido; imperecível, pois nunca se deteriora; desapegado, pois nunca se apega; sem restrições - nunca sente dor, e nunca sofre dano.
Traduções diretas dos Upanishads são geralmente difíceis de apreciar sem explicações adicionais. Swami Krishnananda fornece comentários úteis ao último verso:
Você só pode dizer "o que não é." Você não pode dizer "o que é". Não é o corpo, não é os sentidos; não é qualquer um dos pranas (vitalidade); não é nem mesmo a mente e não é o intelecto. Que outra coisa pode ser? Você não sabe. Se alguém te perguntar: o que é esse Self essencial em você, você pode apenas dizer: "Não é isto", "nem é isto". Mas você não pode dizer "o que é", porque, caracterizá-lo de qualquer maneira seria definí-lo em termos de qualidades que podem ser obtidas no mundo dos objetos. O mundo dos objetos pode ser definido por características perceptíveis aos olhos ou sensível ao toque etc. Mas Atman é a pressuposição e a precondição de cada tipo de percepção. É a prova de todas as provas. Tudo exige uma prova, mas Atman não exige nenhuma prova, porque é a fonte de todas as provas. E, portanto, ninguém pode definí-lo; ninguém pode dizer "o que é." Ele só pode ser inferido, porque se ele não fosse, nada mais poderia ser.
Assim, pode-se dizer que é só possível definí-lo apenas de modo negativo como "não é isto, não é isto, neti neti Atma." Este Atman é definido como "não isto, não é isto, nem isso, não é aquilo, não desse modo, nada que seja conhecível, nada que é sentido, nada que seja possível de ser expresso por palavras, nada que é definível, nada dessa ordem" etc. O que é, ninguém pode dizer! É impossível compreendê-lo, quer através do poder do discurso, ou do poder dos sentidos, ou do poder da mente.
Texto selecionado para estudo em Loja em 26.05.15
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
Estamos completamente inconsciente de nossa verdadeira natureza, porque nos identificamos com nosso corpo, nossas emoções e nossos pensamentos, perdendo de vista o nosso centro imutável, que é pura consciência. Quando retornamos para nossa verdadeira natureza, nossos pensamentos e percepções não mais aparecem como modificações de uma única substância, eles passam a existir e desaparecem como ondas do oceano. (Jean Klein - Be Who You Are)
Advaita é uma filosofia supremamente lógica. Há uma série de procedimentos ou métodos sistemáticos, chamados prakriyas em sânscrito. Cada um deles começa com a nossa experiência real aqui e agora, não nos pedindo para acreditar em qualquer coisa que contradiga essa experiência ou para colocar nossa fé em deuses que estão inteiramente além dela. Assim, há uma srrishti prakriya para discutir a natureza da criação e uma análise da relação entre causa e efeito, o Karana-Karya-prakriya - estes serão analisados em detalhe no Capítulo 7. Existe a avastha-traya-prakriya para analisar os três estados de consciência - consulte o Capítulo 6. A função desses métodos não é aprender sobre o tema do método, mas ver que o tema está concebido de modo errôneo. Assim, ao examinar a criação, descobrimos que nunca houve uma criação. O resultado líquido de todas essas investigações é a percepção de que não há nada que não seja Brahman.
Neste capítulo, nós olhamos para o mais fundamental destes métodos - a discriminação entre o vidente e o visto, drrigdrrishya-prakriya, a fim de descobrir quem não somos. Parece que estou aqui, enquanto você e a mesa estão lá - claramente a aparência de separação. Podemos perceber que não somos os objetos que vemos - saímos da sala e não podemos mais vê-los, mas nós continuamos a existir. Igualmente, não somos as outras pessoas que vemos. Mas o mesmo argumento se estende a nossos próprios corpos e sentidos - podemos perder partes de nossos corpos e até mesmo ficarmos cegos ou surdos, mas "nós" permanecemos. Também nós não somos os pensamentos ou emoções, que vêm e vão. Nós não somos a mente - continuamos a existir mesmo quando suas operações cessam durante o sono profundo ou sob anestesia. Mesmo o eu pensamento é apenas isso - uma outra idéia. O único aspecto constante em tudo isso é a consciência, de modo que é o que eu devo ser - não um objeto, mas o sujeito último. Mas eu nunca posso descrevê-la porque tudo o que eu poderia usar em tal descrição é em si um objeto da consciência e, portanto, já foi negado.
Existe, portanto, um processo de negar todos esses aspectos que pensamos que somos, até que o que resta e não pode ser negado deve ser o verdadeiro Self. Uma frase especial é utilizada para descrever o processo. Ela é chamada de "discriminação entre o vidente e o visto" (drrigdrrishya-viveka). Este é o título de um livro curto (prakarana grantha) atribuído a Shankara, que abre com a seguinte declaração:
A forma é percebida e o olho é o seu percebedor. O olho é percebido e a mente é o seu percebedor. A mente com suas modificações é percebida e a Testemunha (o Self) é verdadeiramente o que percebe. Mas a testemunha não é percebida por qualquer outro.
O exercício que normalmente é associado a ele é dizer: "não é isto, não é isto" em relação a qualquer coisa que nós percebemos ou pensamos que podemos ser - "neti, neti" em sânscrito.
Provavelmente a mais antiga ocorrência conhecida desta expressão é no Brihadaranyaka Upanishad. Ele reconhece que nenhuma descrição direta da verdade, de quem realmente somos, é possível. As quatro "grandes declarações" ou Mahavakyas dos Upanishads são: "A consciência é Brahman", "Isso és tu", "este Self é Brahman" e "Eu (o Self) sou Brahman." Estas "grandes declarações" juntas contêm o sentido último de todos os Upanishads. Todas as outras frases são chamadas avantara vakyas – informações subsidiárias que não dão conhecimento libertador.
Brahman é o que realmente somos, mas está além da descrição. O Upanishad Brihadaranyaka II.3.6 e III.9.26 afirma:
Agora, a descrição de Brahman: "Não é isto, não é isto”. Porque não há outra descrição mais apropriada do que esta "Não é isto." E seu nome é: "Verdade da verdade". A força vital é a verdade, e Isso é a Verdade dela.
Este Self é Aquilo que tem sido descrito como "Não é isso, nem isso." É imperceptível, pois nunca é percebido; imperecível, pois nunca se deteriora; desapegado, pois nunca se apega; sem restrições - nunca sente dor, e nunca sofre dano.
Traduções diretas dos Upanishads são geralmente difíceis de apreciar sem explicações adicionais. Swami Krishnananda fornece comentários úteis ao último verso:
Você só pode dizer "o que não é." Você não pode dizer "o que é". Não é o corpo, não é os sentidos; não é qualquer um dos pranas (vitalidade); não é nem mesmo a mente e não é o intelecto. Que outra coisa pode ser? Você não sabe. Se alguém te perguntar: o que é esse Self essencial em você, você pode apenas dizer: "Não é isto", "nem é isto". Mas você não pode dizer "o que é", porque, caracterizá-lo de qualquer maneira seria definí-lo em termos de qualidades que podem ser obtidas no mundo dos objetos. O mundo dos objetos pode ser definido por características perceptíveis aos olhos ou sensível ao toque etc. Mas Atman é a pressuposição e a precondição de cada tipo de percepção. É a prova de todas as provas. Tudo exige uma prova, mas Atman não exige nenhuma prova, porque é a fonte de todas as provas. E, portanto, ninguém pode definí-lo; ninguém pode dizer "o que é." Ele só pode ser inferido, porque se ele não fosse, nada mais poderia ser.
Assim, pode-se dizer que é só possível definí-lo apenas de modo negativo como "não é isto, não é isto, neti neti Atma." Este Atman é definido como "não isto, não é isto, nem isso, não é aquilo, não desse modo, nada que seja conhecível, nada que é sentido, nada que seja possível de ser expresso por palavras, nada que é definível, nada dessa ordem" etc. O que é, ninguém pode dizer! É impossível compreendê-lo, quer através do poder do discurso, ou do poder dos sentidos, ou do poder da mente.
Texto selecionado para estudo em Loja em 26.05.15
"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.
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