segunda-feira, 15 de junho de 2015

5000 anos de Advaita: Apego

Por Dennis Waite

Não é o mundo, mas apego a ele que é a raiz de toda a miséria. (Swami Nityaswarupananda Astavakra Samhita)
Este apego é chamado ahamkara em sânscrito, que significa literalmente "fazer" a afirmação "Eu sou." É esse elemento da mente que tende a se identificar com idéias tais como "Eu sou um homem", ou um professor ou um pai etc. Mesmo que tudo isso possa ser verdadeiro no nível relativo, nada disso se relaciona com minha natureza essencial, como ficará claro mais tarde. Essas associações estão sendo feitas somente no nível da mente e não afetam em nada o que eu realmente sou.
Se realmente estivessemos pegados à uma idéia ou um estado, então ele iria ficar com a gente o tempo todo. No entanto, mesmo durante o estado de vigília, muitas vezes em um tempo muito curto a felicidade é sucedida pela miséria e o cansaço desaparece num instante, se surgir uma emergência. E quando vamos dormir, todas as preocupações, alegrias e dores desaparecem completamente.
No entanto, essa identificação se estende ao nível mais profundo. Acreditamos que nós pensamos, que nós agimos e que nós desfrutamos (ou não). Vai tornar-se evidente que nada disso é verdadeiro. Será discutido no próximo capítulo que não temos livre arbítrio como comumente entendido, e o terceiro irá mostrar como já somos a própria felicidade, independentemente do fato de estarmos atualmente desfrutando a vida ou sofrendo. E quanto ao pensar, os pensamentos certamente surgem, mas realmente fazemos alguma coisa para eles se originarem? Pensamentos ocorrem na mente e "nós" os vemos. Ação pode resultar e "nós" as testemunhamos, assim como testemunhamos o prazer ou a dor que possa suceder. Mas nós não somos nenhuma destas coisas, nem mesmo este "testemunho". Somos aquilo que é o fundo imutável para todos esses fenômenos transitórios.
A metáfora de um ator, desempenhando um papel no palco é muitas vezes usada para falar da maneira como devemos agir no mundo. Devemos lembrar-nos todo o tempo que nós não somos o corpo, a mente ou intelecto:
Será que um homem que está atuando no palco em um papel feminino esquece que ele é um homem? Da mesma forma, nós também temos que interpretar nossos papeis no palco da vida, mas não devemos nos identificar com esses papeis. (Be As You Are. Sri Ramana Maharshi )
Também não somos uma "pessoa". De fato, o próprio sentido da palavra - que deriva do latim persona - sendo a máscara usada pelos atores no teatro greco romano, nos diz que não podemos ser isso. No mínimo, temos de ser o que for que esteja usando a máscara.
A pessoa é meramente o resultado de um mal entendido. Na realidade, não existe tal coisa. Sentimentos, pensamentos e ações correm diante do expectador em infinita sucessão, deixando traços no cérebro e criando uma ilusão de continuidade. Um reflexo do expectador na mente cria a sensação de eu, e a pessoa adquire uma existência aparentemente independente. Na realidade não há nenhuma pessoa, apenas o observador identificando-se com o eu e o “meu”. O professor diz ao observador: você não é isto, não há nada de seu nisto, exceto o pequeno ponto de "eu sou", que é a ponte entre o observador e o seu sonho. "Eu sou isso, eu sou aquilo" é o sonho, enquanto o puro "eu sou" tem o selo da realidade sobre ele. Você já provou tantas coisas - tudo deu em nada. Somente a sensação "Eu sou" persistiu - inalterada. Fique com o imutável no meio do mutável, até que você seja capaz de ir além. ((I am That. Sri Nisargadatta Maharaj)
Tudo o que precisamos saber sobre a verdade pode ser encontrado nos Upanishads, mas há um problema em saber aonde olhar e na compreensão do que é encontrado. Um comentário esclarecido é essencial.  O Kena Upanishad, por exemplo, é bastante curto e transmite o conhecimento de nossa verdadeira natureza de quatro maneiras diferentes, de acordo com a facilidade espiritual do ouvinte. A primeira seção é a mais direta e sucinta, mas, consequentemente, aparentemente a mais difícil. O verso dois diz-nos que nós somos aquilo que possibilita ou capacita a mente etc., e não a própria mente. Uma explicação bela e clara é fornecida por Swami Paramananda:
É o ouvido do ouvido, a mente da mente, a fala da fala, a vida da vida, o olho do olho. O sábio, livre (dos sentidos e dos desejos mortais), depois de deixar este mundo, torna-se imortal. (Kena Upanishad I.2)
Um homem comum ouve, vê, e pensa, mas ele fica satisfeito em saber apenas o quanto possa ser conhecido através dos sentidos; ele não analisa e tenta encontrar o que está por trás do ouvdo, do olho ou da mente. Ele está completamente identificado com a sua natureza externa. Sua concepção não vai além do pequeno círculo de sua vida corporal, que diz respeito apenas ao homem exterior. Ele não tem consciência daquilo que dá capacidade aos seus sentidos e órgãos para executar suas tarefas.
Há uma vasta diferença entre a forma manifesta e Aquilo que se manifesta através da forma. Quando conhecemos Aquilo, nós não morreremos com o corpo. Aquele que se apega aos sentidos e às coisas que são efémeras, deve morrer muitas mortes; mas o homem que conhece o olho do olho, o ouvido do ouvido, tendo separado-se de sua natureza física, torna-se imortal. A imortalidade é alcançada quando o homem transcende sua natureza aparente e descobre aquela essência sutil, eterna e inesgotável que está dentro dele. (Four Upanishads)

Texto selecionado para estudo em Loja em 09.06.15

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

Nenhum comentário: