segunda-feira, 15 de junho de 2015

5000 anos de Advaita: As "bainhas" que envolvem nossa verdadeira essência

Por Dennis Waite

A advaita tradicional utiliza um modelo para ilustrar os níveis sucessivos de identificação que ocorrem, e que assim obscurecem nossa natureza real. Ela coloca a hipótese de que nossa verdadeira essência é eficazmente coberta por "invólucros", da mesma forma que uma bainha encerra a lâmina de uma espada. Na verdade, a palavra sânscrita kosha é ainda mais sugestiva já que um dos seus significados é um "tesouro" onde algo de grande valor é armazenado. O modelo é chamado pancha kosha prakriya - o método dos cinco revestimentos e é explicado em detalhe no Taittiriya Upanishad. Foi assim que descrevi no meu livro anterior, "The Book of One":
A primeira dessas camadas - a mais grosseira e aquela com a qual nós tendemos a nos identificar primeiro - é o corpo. Ela é referida como a bainha feita de alimentos, annamayakosha. O corpo nasce, envelhece, morre e se decompõe de novo em comida da qual ele veio originalmente (alimento para os vermes), mas isso não tem nada a ver com o verdadeiro Self, que está muito mais perto do que a mão ou pele.
A segunda camada é chamada de "bainha vital" ou bainha feita de respiração, pranamayakosha. A mitologia hindu refere-se ao "ar" como soprando vida no corpo. Poderíamos chamá-la força vital por meio da qual o corpo é animado e as ações são executadas. Embora esta força derive do Self, como tudo, ela não é o Self. Cada um de nós tende a acreditar que somos de alguma forma imortal. Embora reconheçamos que o corpo deve, eventualmente, morrer, sentimos que existe essa força animadora que vai sobreviver à morte. Esta é a identificação com a bainha vital.
A próxima camada é a camada mental que consiste na mente pensante e nos órgãos de percepção, manomayakosha. Esta é a parte da composição mental responsável pela transmissão de informações do mundo exterior, mas que normalmente se eleva erroneamente para algo que não é assunto seu, ou seja, pensar e tentar entender tudo. A palavra sânscrita para este "órgão" da mente é manas. Esta é provavelmente a bainha com a qual a maioria de nós nos identificamos.
Além dela, porém, há uma capacidade superior à mente, responsável pela discriminação, reconhecendo a verdade ou falsidade, o real ou irreal, sem recorrer a  coisas mundanas como pensamento e memória. No silêncio, ela sabe, sem precisar pensar. Podemos chamar isso de intelecto; em sânscrito é chamado buddhi. É responsável por tais julgamentos como o de Salomão, em relação às duas mães que reinvindicavam a mesma criança. Ele sugeriu serrar o bebê em dois e dar a metade para cada mulher. Supostamente a falsa mãe concordou com isso, enquanto a mãe verdadeira disse que a outra mulher poderia ficar com a criança. Esta é a bainha intelectual, vinanamayakosha.
Alguns leitores que meditam podem ter tido a sorte de experimentar momentos da mais profunda paz e silêncio, quando a mente está completamente ausente e um sentimento de profundo contentamento pode ser sentido. Pode-se pensar que este é o estado de realização para o qual nós estamos visando, se somente pudesse ser mantido. Em vez disso, dura poucos minutos ou, muito raramente algumas horas para alguns ascetas dedicados. Mas não, este é apenas um outro estado, embora talvez desejável e bem-aventurado. Ainda estamos a observá-lo e, portanto, não pode ser isso. É o revestimento final, chamado apropriadamente a bainha da bem aventurança, anandamayakosha. Devido à sua natureza extremamente feliz, é reputadamente a bainha mais difícil de transcender.
O que realmente somos, então, é o "Self real" ou simplesmente "Self" com um "S", como ele será chamado neste livro. Os termos sânscritos são atman, quando se refere ao indivíduo aparente, ou brahman, quando se refere ao universo aparente - embora seja descoberto que são idênticos. Mas, através da identificação com essas várias camadas ou bainhas, este Self é obscurecido. É como a água contida em um frasco de vidro colorido. A água parece assumir a cor do vidro, mas é em si mesma incolor.
[Na verdade, as bainhas não "encobrem" nada. É, antes, o caso delas serem níveis em que nós experimentamos o mundo e com os quais nos identificamos. Não há nada que não seja Atman-brahman de modo que cada uma das bainhas é o próprio Atman e isso é realizado uma vez que paremos a identificação. Uma vez que as bainhas foram negadas, o que resta é o que não pode ser negado - a eterna testemunha. O modelo é apresentado como uma ajuda para a compreensão e mais tarde é demonstrado ser falso quando nossa compreensão aumenta. Esta metodologia é fundamental para o ensino da Advaita. Tudo isso vai ser revisto e tornado mais claro nos próximos capítulos.]
Outro modelo semelhante vale a pena ser mencionado de passagem, uma vez que ilustra novamente o método Advaita clássico de afirmar que X é verdade, mas, em seguida, posteriormente redelineá-lo, quando o conhecimento do aluno se aprimora e sua capacidade intelectual para aceitar conceitos não intuitivos aumenta. Este método é semelhante à metáfora Zen popular do "dedo apontando para a lua" e é, na verdade, chamado de "regra da lua em um galho" - shakha-chandranyaya. No Atmopanishad, somos informados de que quem somos é primeiro o "Atman exterior" de pele, unhas, cabelo, etc., e, em seguida, o "Atman interno“, que é quem ouve, pensa, faz etc. Então, no terceiro e último verso, somos informados sobre Paramatman, que não pode ser percebido nem concebido; que não morre e está além de qualidades etc. Swami Madhavananda explica:
Assim como a lua, embora imensamente distante do galho da árvore, é apontada a uma criança como a lua no ramo, porque ela parece estar contígua a ele, do mesmo modo Paramatman – embora Ele não tenha realmente nenhuma relação com o corpo e a mente, ainda assim por uma questão de facilidade para o aluno - é apontado pela primeira vez através do corpo e da mente, que é chamado aqui Atman exterior e interior, respectivamente, por causa de Sua aparência muito semelhante a eles para uma mente criança. Assim, levando o buscador da Verdade passo a passo, a verdadeira natureza do Atman é desvelada. (Minor Upanishads, Swami Madhavananda)

Texto selecionado para estudo em Loja em 09.06.15

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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