quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sophia Perennis

Sophia Perennis é um termo latino que pode ser traduzido como sabedoria perene. A Sophia Perennis também é conhecida como sabedoria eterna, filosofia perene e por outros nomes que se referem diretamente a ideias e ensinamentos focados na perspectiva universal subjacente de que a natureza, e especificamente a humanidade, são inerentemente divinas. A Sophia Perennis tem sido chamada de núcleo transcendente comum de tudo o que identificamos como religião. Quando uma mente aberta recebe os princípios desta sabedoria eterna, a característica da realidade muda em um instante e a busca pela verdade termina.

Quando alguém tenta ensinar essa sabedoria, há muitas oportunidades para confusão. Muitos escreveram ou falaram sobre Sophia Perennis, mas relativamente poucos a conheceram bem. Ela está sempre indicando não apenas o conteúdo da consciência, mas para a própria consciência. Quando se manifesta no nosso mundo é tanto adorada como perseguida e muitas vezes ambos. Em qualquer caso, é certamente mal-entendida em algum grau.

A sabedoria eterna não é algo que pode ser completamente ou concisamente gravado em uma filosofia ou religião específica. Sua influência é ubíqua e pode ser facilmente identificada no Budismo, Hinduísmo, e Taoísmo bem como nas escolas de mistério das religiões ocidentais. A sabedoria eterna é menos óbvia nas versões mais populares do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, que enfatizam a salvação do indivíduo depois da morte, ao invés da vida em união com o Divino.

A Sophia Perennis aponta para um entendimento que vai além da perspectiva individual para as fundações de tudo o que existe. Apesar de todo este fundamento ser expresso pela mais simples das verdades, estas são não-conceituais e não podem ser expressas claramente usando a linguagem, e aí está grande parte do problema. Dizer que a Sophia Perennis está além dos conceitos é sem sentido para a mente porque o que a mente faz primariamente é integrar conceitos. Esta traduz nossas várias percepções em entendimento conceitual, e então o conhecimento pode ser estruturado e integrado.

Os conhecimentos, religiões e filosofias estabelecidos não são a Sophia Perennis. A Sophia Perennis é a submissão ao momento presente eterno. Está tão próxima como o seu batimento cardíaco e a sua corrente sanguínea. É invisível à mente. É um poste de sinalização que leva à única direção que você pode ir. É o penhasco existencial que leva o buscador a abraçar o eterno pela desidentificação com o ego pessoal condicionado e a despertar para a Unidade que é. Está viva dentro de cada um de nós como um impulso em direção à transcendência.

Agora vamos ver alguns ensinamentos derivados da Sophia Perennis.


Dualidade vs. Não-dualidade

A perspectiva do dualismo se baseia na existência de um outro para manter um eu. O outro pode ser indivíduos, grupo, natureza, o universo, Deus, o desconhecido, e etc. O dualismo é a perspectiva que separa, define, julga e categoriza coisas e experiências. É a perspectiva da ciência e da vida diária; é baseado na observação e justificado pelo que chamamos “senso comum”. Este é o ponto de vista prevalecente no mundo ocidental.

A não-dualidade pode ser entendida como a plataforma teórica na qual toda a realidade está. A perspectiva não-dual diz que o Absoluto, por definição, é tudo o que é, e inclui todas as separações aparentes da Unidade. Segundo David Loy, “Não havia dois; o espectador era um com o contemplado; isto não era uma visão limitada, mas a unidade apreendida”.

Segundo Arthur Schopenhauer (1788-1860), “Como um indivíduo, com sua morte haverá o seu fim. Mas a sua individualidade não é sua verdade e o seu ser definitivo, na verdade é a mera expressão disto; não é a coisa em si mas somente o fenômeno presente na forma de tempo, e tem um começo e um fim. O seu Ser em si, pelo contrário, não conhece nem o tempo, nem o começo, nem o fim, nem os limites de uma dada individualidade; porém a não-individualidade está em cada parte e em tudo. Então, num primeiro sentido, depois da morte você se torna nada; num segundo sentido você é e permanece tudo.”


Desconstruindo o ego

Para nossos sentidos, aparentamos ser sólidos, confinados em nossa pele, e feito de certos materiais, mas uma observação mais profunda irá revelar que esta não é a história inteira. Podemos começar por considerar que o indivíduo não é muito mais que um complexo arranjo de processos. A pele em que parecemos viver é uma membrana semi-permeável que está em constante interação com o ambiente. Nós trocamos oxigênio por dióxio de carbono quando respiramos, consumimos comida e bebida e expelimos os excrementos, somos feridos e sangramos, nascemos e apesar de nosso maior esforço para o oposto, iremos morrer e decompor; o ambiente o ambiente se move através de nós assim como nós nos movemos através do ambiente.

Uma maneira de olhar para um indivíduo é considerá-lo análogo a uma onda. Segundo Richard Dawkins, “Uma onda parece se mover horizontalmente pelo mar aberto, mas as moléculas da onda se movem verticalmente. Similarmente, ondas sonoras podem viajar de um falador para um ouvinte, mas as moléculas de ar, não: seria vento não som. Segundo Steve Grand, “Eu sou mais onda do que algo permanente”.

Enquanto o corpo pode existir como um arranjo complexo de processos físicos, além disso, há algo que dá continuidade à vida, uma identidade para a qual o processo parece se manter. A identidade com a qual nós somos mais familiares é o resultado de muitos outros processos que começam no nascimento.

O bebê não reconhece a separação entre ele mesmo e o ambiente, mas à medida em que a criança aprende a separação, adquirindo camadas e mais camada de ideias e imagens, as respostas padrões e características se formam e se desenvolvem, em um processo conhecido como individuação e desenvolvimento da personalidade, segundo a psicologia.

As influências do ambiente são combinadas com as predisposições genéticas guiando o desenvolvimento de respostas padrões, ou personalidade/ego, que ainda serão moldadas pelas escolhas feitas durante os períodos críticos de desenvolvimento. É durante as idades mais formativas que a imagem do indivíduo gradualmente emerge como uma entidade que parece ser dirigida em direção ao futuro composta de desejos e medos que são derivados de um passado feito de pensamentos que nós conhecemos como memórias e crenças.

Quando a criança vai para a escola, a construção de sua imagem requer tanta atenção que a única realidade conhecida é a dualística. A ilusão se torna mais convincente quando a criança atinge a idade da razão e da responsabilidade. Haverá expectativas e restrições impostas por vários agentes desde amigos e família a Deus e ao país. Esta é a circunstância em que a maioria das pessoas vivem; empurradas por forças invisíveis colocadas em movimento durante a infância e até mesmo antes do nascimento.



Por que desconstruir o ego?

A proposta de desconstruir o ego é expor o ego para a falácia que ele é. No mundo da realidade consensual, nós procuramos a verdade como indivíduos que esperam ir na direção percebida como o mais elevado estado de consciência. Neste processo, podemos nos tornar melhores seres humanos, mais calmos, mais sensíveis, talvez caridosos. A crença em um eu separado é um sonho do qual estamos tentando acordar. O indivíduo, o ego, não pode de fato cruzar a linha, e enquanto o ego estiver no controle da atenção, a iluminação continuará um mistério. Sem dúvida produz um dilema para o buscador espiritual.

Segundo Lonny J. Brown: “Você não é o que pensa ser, e nem tem ideia de quem realmente é.

Você se identifica com seu corpo, seu nome, seu gênero, sua família, funções, religião, convicção política, sua nação. Mas todos estes são fantasias criadas pelo seu Self desconhecido, de modo que você possa descobrir um outro caminho para a casa através do labirinto cósmico da criação. Você é um viajante que perdeu o seu caminho e esqueceu que está perdido.

Você age como se você se conhecesse. Você usa o mesmo pronome auto-referente “eu” que todos usam, e acredita em si mesmo como sendo alguém isolado com uma identidade sólida separada.

Mas você não é o seu nome, nem sua posição social, nem o seu emprego, nem uma parte da sua família, comunidade ou nação. Você limitou o conhecimento sobre você mesmo com funções circunstanciais, fidelidades, gostos adquiridos, convenções da moda, desejos inextinguíveis, medos crescentes, e numerosas opiniões sobre o que é importante ou possível.

Você foi definido por mitos tribais hábitos antigos, e reações cegas. Você tem sido um feliz escravo de seus apetites, contente em viver no palácio de cristal fortificado pela sua personalidade estabelecida: Mesmo elegante, confortável e perfeitamente auto-justificado, isto é ilusório. O verdadeiro objetivo de buscar não é se tornar uma pessoa melhor ou mais espiritual, mas superar a ilusão de separação e redescobrir a Unicidade da existência.”


Unidade

A qualidade de unidade é central à sabedoria da Sophia Perennis. Na mente da maioria das pessoas, a unidade significa estar junto de indivíduos ou coisas, mas a unidade da Sophia Perennis é primária e transcendente, vendo o indivíduo e a realidade em geral como expressões do Absoluto. A Unidade, neste contexto se refere à Unicidade da realidade, não para um conglomerado de indivíduos e coisas.

Segundo David Loy: “É devido à superimposição do pensamento dualístico que experienciamos o mundo dualisticamente... como uma coleção de objetos discretos (um deles sendo eu) interagindo causalmente no espaço e no tempo. A negação do pensamento dualístico leva à negação dessa maneira de experienciar o mundo. Isso nos leva ao segundo sentido da não-dualidade: que o mundo é não-plural, porque todas as coisas no mundo não são realmente distintas umas das outras, mas juntas constituem um todo integral.”

Segundo Ken Wilber: “Agora quando você entender que não há nenhum intervalo entre você e suas experiências, começa a se tornar óbvio que não há nenhum intervalo entre você e o mundo que é experienciado. Você não tem a sensação de um pássaro, você é a sensação de um pássaro. Você não tem uma experiência de mesa, você é a experiência de mesa. Você não escuta o som do trovão, você é o som do trovão. A sensação interna chamada ‘você’ e a sensação externa chamada ‘o mundo’ são a única e a mesma sensação. O sujeito interno e o objeto externo são dois nomes para um sentimento, e isto não é algo que você deve sentir, isto é a única coisa que você pode sentir.

Isso significa que seu estado de consciência agora é, se você realiza ou não, a consciência da unicidade. Agora você já é o cosmos e a totalidade da sua experiência presente. Seu estado presente é sempre a consciência da unicidade porque o eu separado, que parece ser o maior obstáculo para a consciência da unidade, é sempre uma ilusão. Você não precisa destruir o ego separado porque este não está em primeiro lugar. Tudo o que você tem que fazer é olhar para ele, e você não irá encontrá-lo. Isto é a consciência da unidade. Em outras palavras, quando você olhar para seu ego e não encontra-lo, em um momento você irá cair em seu primeiro e real estado da unidade da consciência.”

Segundo Frijiot Capra: “A característica mais importante da visão do mundo oriental – poderia dizer a essência deste – é a consciência da unidade e a interrelação mútua de todas as coisas e eventos, a experiência de todos os fenômenos no mundo como manifestações de uma unicidade básica.

Um deles é conduzido a uma nova noção de inteireza inquebrável que nega a analisabilidade do mundo em partes separadas e independentes...Nós revertemos a noção clássica usual de que partes elementares do mundo são a realidade fundamental, e que vários sistemas são meramente formas contingentes e particulares e o arranjo dessas partes. Ao invés disso, falamos da interconectividade quântica inseparável de todo o universo que é a realidade fundamental, e que partes se comportando relativamente independentes são meramente formas contingentes e particulares dentro deste todo.”

A teoria quântica aboliu a noção de objetos fundamentalmente separados, e introduziu o conceito de participante para substituir o de observador, e pode até mesmo achar necessário incluir a consciência humana em sua descrição do mundo. Isso levou à visão do universo como uma rede interconectada de relações físicas e mentais, cujas partes são apenas definidas através de suas conexões com o todo.”

Segundo Karl Renz: ”Não há criador e nem criação. Há o único Self e seu desdobramento, que é infinito. Porque não há nada fora do Self, não pode haver criador separado ou criação. Fora deste desdobramento, o ‘eu’ como consciência se torna o pensamento ‘eu sou’; do pensamento “eu sou” vem o sentimento ‘eu sou um objeto no tempo.’ Tudo isto tem lugar como parte do desdobramento do Self.”

Segundo Lonny Brown: “Ultimamente a dicotomia entre sujeito e objeto é falsa; qualquer senso de separação entre você e o universo inteiro é imaginário, embora funcional no mundo diário do tempo e espaço. Quando você realiza isto, isto significa que não precisa levar suas batalhas tão a sério, todos que você confronta é você mesmo disfarçado. Além disso – e isto é uma blasfêmia real ao estabelecimento religioso – não há diferença entre o sagrado e o profano... isto tudo depende de onde você está vindo. Você é imediatamente purificado pelas suas intenções mais altas.

Finalmente, entendendo a permanência do fato fundamental da unidade-multiplicidade, toda experiência e contato automaticamente unem e iluminam. Não há nenhuma fonte de verdade longe, nenhum território pessoal para proteger e nenhum inimigo para lutar. Há apenas o todo...ser.

Significa que guardar dinheiro, escovar os dentes e se opor ao crime é ignorante? Dificilmente. Isso significa que ao aumentar a realização, nossas ações não vêm do desespero e do medo, mas da sabedoria, harmonia e humor. Podemos fazer as mesmas tarefas, porém de uma perspectiva mais ampla. Podemos ser ao mesmo tempo ferozes e livres”.

Segundo Timothy Freke e Peter Gandy: “A boa notícia é que somos todos um, A má notícia é que apenas uma minoria realiza isto. A maior parte de nós está adormecido no pesadelo da separatividade. E a convicção errônea de que estamos separados é a causa de incalculável sofrimento. Esta é a causa raiz de todos os nossos problemas individuais. E esta é a causa raiz da nossa crise mundial criada por 9/11 e seu resultado. Para os gnósticos a única solução é acordar para a unicidade e rejeitar o Literalismo. O Literalismo é acima de tudo, o erro de tomar nós mesmos literalmente como indivíduos separados.

Fonte: EDWARDS, G. The Rape of Sophia Perennis, AuthorHouse, Bloomington, Indiana, 2009.


Texto selecionado pela irmã Dafne Pires para estudo em Loja realizado em 14.07.15.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

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