quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Sam Harris: A Morte e o Momento Presente

Transcrição do vídeo [20:16:00]

Ao contrário das pessoas religiosas, nós, ateus, realmente temos um bom motivo para aproveitar a vida ao máximo, aproveitar o momento presente ao máximo, porque, mesmo que você viva até cem anos, não são tantos dias de vida assim.
Então, qual é o sentido da vida?
Será que ela é algo sagrado?
Será que essa questão ainda faz sentido?
É isso que preocupa as pessoas religiosas.
Eu acho que essas questões realmente fazem sentido e existe resposta para isso, mas a resposta não é uma questão de conseguir mais informação.
A resposta é mudança de atitude.
Existem maneiras de se experimentar a vida como algo sagrado, sem se acreditar em coisa alguma, certamente sem se acreditar em coisa alguma sem prova suficiente. Existem maneiras de realmente se viver no momento presente.
Qual é a alternativa?
Ela é sempre o agora.
Por mais que você sinta que precisa fazer planos para o futuro, antecipá-lo para reduzir riscos, a realidade da sua vida é o agora.
Isso pode parecer idiotice.
Pode parecer algo perigosamente próximo do que o Dan chamou de ″deepity″ na palestra dele. Mas é a verdade.
Isso não é verdade como uma questão de física. De fato, não existe nenhum ″agora″ que abrange todo o universo.
Não se pode falar de um evento ocorrendo aqui simultaneamente com outro evento no mesmo instante em Andrômeda.
A verdade é que o ″agora″ nem sequer é bem definido como uma questão de neurologia, porque sabemos que os inputs para o cérebro chegam em diferentes momentos e que a consciência é construída sobre camadas de inputs cujos tempos precisam ser diferentes.  Pense na sensação de tocar seu nariz com o dedo.
Ela parece ser simultânea como uma questão de experiência consciente. Mas nós sabemos que para viajar do dedo ao córtex sensorial deve levar mais tempo que do do nariz ao córtex sensorial, o que é verdade, por mais que seu braço seja curto e seu nariz, comprido.
O cérebro armazena esses inputs de alguma forma na memória e então provoca uma aparente simultaneidade para a consciência, e assim, a atenção consciente para com o momento presente já é, em certo sentido e com relevância, uma memória.
Mas, como uma questão de experiência consciente, a realidade da sua vida é sempre o ″agora″.
Eu acho que isso é uma verdade libertadora sobre a natureza da mente humana.
De fato, eu acho que provavelmente não existe nada mais importante do que isso para você entender a sua mente, se você quer ser feliz neste mundo.
O passado é uma memória, é um pensamento que surge no presente.
O futuro é meramente uma antecipação, é outro pensamento que surge agora.
O que nós temos realmente é este momento e só.
Nós passamos a maior parte da vida esquecendo essa verdade, repudiando-a,   afastando-a, fazendo vista grossa, e o que é pior é que nós conseguimos!
A gente consegue nunca se conectar com o momento presente e encontra satisfação nisso, porque fica sempre esperando ser feliz num futuro e esse futuro nunca chega.
Mesmo quando pensamos que estamos no momento presente, estamos, de forma muito sutil, sempre olhando além dele, antecipando o que vem a seguir.
Estamos sempre resolvendo um problema.
É possível você simplesmente se desligar do problema, por um momento que seja, e desfrutar de tudo o que é verdadeiro na sua vida no presente.
Ora, mais uma vez, como você pode ver, a linha que separa a sabedoria atemporal da banalidade é um pouco difícil de se encontrar.
Eu estou um pouco preocupado porque alguns de vocês começaram a calar com esse meu aparente blá-blá-blá de ″nova era″, mas saibam que eu não quero ficar diante de quatro mil ateus, causando boa impressão como um Lao-Tzé.
Se eu vou falar sobre esse ponto crucial, eu preciso realmente dizer algumas coisas que vocês provavelmente já ouviram antes e provavelmente rejeitaram, porque isso veio misturado com metafísica religiosa e superstição.
Isso não é uma questão de nova informação ou de mais informação.
Isso requer uma mudança de atitude.
Isso requer uma mudança da atenção que você presta à sua experiência no momento presente.
É claro que quando falamos da experiência consciente, estamos todos mais uma vez falando da morte, porque se a consciência só se manifesta dependente do cérebro, então a morte é real e toda religião já inventada até hoje é falsa, e não preciso dizer que tem muita gente andando por aí, com a intuição de que isso não é verdade, e que a consciência é, em certo sentido, independente do corpo.
Ora, existem boas e muitas razões para se duvidar dessa intuição, é claro.
Nós sabemos que a introspecção nos oferece uma visão muito pobre da base material da nossa vida interior.
Existem 100 bilhões de neurônios no cérebro.
Existem mais, cada um faz milhares de conexões com outras células. Existem mais conexões num único centímetro cúbico de tecido cerebral do que estrelas na nossa galáxia.   Apesar disso, nossa experiência interior não nos oferece absolutamente qualquer pista de que é assim que acontece.
Nós não estamos ligeiramente desconectados com a base material da nossa vida interior. Nós estamos completamente desconectados disso.
Eu mesmo penso bastante sobre o cérebro humano, e quase nunca me ocorre  que  também tenho cérebro!
Nós temos uma visão muito limitada daquilo que está acontecendo.
Subjetivamente, nós desconhecemos grande parte daquilo que a nossa mente faz.
Apesar disso, quando pensamos sobre o que é importante, o que importa é a consciência e o seu conteúdo.
A consciência é tudo.
Nossa experiência do mundo, a experiência daqueles de quem gostamos é uma questão da consciência e seu conteúdo.
Qualquer que seja a origem da consciência, a questão mais importante para nós é: como podemos verdadeiramente nos realizar na vida?
Como podemos criar uma vida que seja verdadeiramente digna de ser vivida, dado que essa vida chega ao fim?
Todos nós estamos nessa busca de realização e alívio do sofrimento.
Isso não quer dizer que nós queremos o mero prazer ou a vida mais fácil possível.
Muito daquilo que nós queremos na vida, muito daquilo que nós queremos experimentar, envolve esforço e muitos de nós aprendemos a usufruir desse esforço em alguma medida.
Todo atleta sabe que há certos tipos de dores que são realmente prazerosas.
Se a dor provocada pelo levantamento de peso fosse realmente um sintoma de uma doença, ela seria insuportável, mas como ela acontece no contexto de um exercício extenuante e de progresso também, muitas pessoas aprendem a usufruir disso.  A lente conceitual com a qual examinamos até mesmo uma sensação muito intensa em grande parte determina como nos sentimos a respeito dela.
Essa é uma das muitas maneiras que estamos pensando sobre a experiência.
Isso muda o caráter da experiência.
A moldura que nós colocamos ao redor do momento presente é importante e determina grande parte da nossa experiência com ele. Mas, parece que é de fato possível experimentar a vida mais livremente do que antes, experimentar a vida sem essa moldura aparente,  prestar atenção ao momento presente com bastante rigor, e não fazer nada contra isso.
Existem técnicas para fazer isso.
Eu quero fazer uma pequena experiência com vocês.
Por favor, fechem os olhos.  [29:38:00]

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