Transcrição do vídeo [10:18:00]
Eu penso que é seguro dizer que a realidade da morte é algo
que todos iremos enfrentar, assim como a perda daqueles que amamos.
Não há um processo de aperfeiçoamento neste lugar, mesmo que
você jogue o jogo com perfeição e que você se torne tão saudável quanto um
vampiro, mesmo se você viver tempo suficiente, você vai testemunhar a morte de
todos aqueles a quem você ama.
Em dado momento, o telefone vai começar a tocar e lá vem a
má notícia!
Mesmo as nossas memórias são precárias.
Minha filha tem três anos e meio, eu fico espantado de
perceber o quanto da vida dela eu já esqueci.
É só vê-la num vídeo feito há um ano, para você ficar
espantado de ver como isso é estranho. Ela é uma pessoa completamente diferente
agora.
Não existe uma maneira satisfatória de nos prendermos ao passado.
Na verdade, quando olhamos de perto, também não existe
maneira insatisfatória de fazê-lo.
Estamos presos no momento presente.
A memória é um pensamento que surge no presente.
Estamos presos no momento presente com os nossos pensamentos
e os nossos iPads!
O que o ateísmo tem a oferecer às pessoas nessas
circunstâncias, às pessoas como nós, às pessoas mais medrosas e mais
auto-iludidas do que nós, a esse grande corpo da humanidade que recua ante a
mera sugestão de que um carpinteiro do século um pode não ser capaz de ouvir
seus pensamentos, muito menos atender as suas preces?
O ateísmo como mera descrença em Deus não tem muito a
oferecer.
É um corretivo para todo um conjunto de más idéias, mas ele
não coloca nada no lugar das más ideias.
É um corretivo necessário, mas o que preenche o vazio é a
ciência, a arte e a filosofia.
O ateísmo é apenas uma maneira de abrir espaço para uma
conversa melhor.
O problema que enfrentamos, naturalmente, é um problema de
exigir e convencer grande parte da humanidade a ter essa conversa melhor e isso
é um problema político.
É um problema científico, é um problema interpessoal, é um
problema da educação.
Mas o problema é que a maioria das pessoas na maioria das
vezes está desesperada e quer acreditar em idéias ridículas e separatistas,
evidentemente por razões emocionais, enquanto, de modo raramente explícito, o
que realmente lhes preocupa é a morte.
Quando nós estamos debatendo sobre ensinar a evolução nas
escolas, eu diria que nós estamos realmente debatendo sobre a morte.
Parece que essa é única razão para qualquer pessoa religiosa
se preocupar com a evolução.
Porque se seus livros sagrados estão errados sobre nossas
origens, muito provavelmente estão errados sobre o nosso destino após a morte.
Quando você diz a alguém: “Você é um tolo por não acreditar na evolução”
ou “Você é um tolo por pensar que o universo tem seis mil anos, eu acho isso
pode ser traduzido como: “Você é um tolo
porque você pensa que a sua filha que morreu num acidente de carro está
realmente no céu com Deus. Essa é uma
mensagem muito diferente.
Antes de eu chegar ao final desta frase, algo imprevisível e
terrível irá acontecer com alguém em algum lugar e nós vamos ler sobre isso no
jornal amanhã.
A questão é como pode uma pessoa prestes a sofrer uma
tragédia dar-lhe um sentido?
A religião fornece resposta para isso.
É uma resposta injustificada, é uma resposta ruim, é uma
resposta que vem com muitas outras responsabilidades, porque um ser fez nascer
tantas respostas conflitantes e irreconciliáveis, portanto, o conflito
religioso e o tribalismo político parecem algo impossível de ser superado.
Mas a religião realmente fornece uma resposta que a maioria
das pessoas acha que precisa.
E o cisma entre os secularistas, o fato de que muitas
pessoas nesta conferência são regularmente atacadas por criticarem a religião,
continua a partir desse ponto.
As pessoas estão preocupadas com o sofrimento das outras
pessoas.
Os cientistas e os jornalistas que fizeram carreira,
atacando os chamados novos ateus estão preocupados com o sofrimento das outras
pessoas.
Quando a sua filha morre num acidente de carro, acreditar
que agora ela está no céu com Jesus tem que ser consolador, tem que ser
consolador de tal maneira que nenhuma outra crença possa ser.
É verdade que há um lado sombrio nesse tipo de pensamento.
Eu conheço pessoas que sofreram tragédias como essa, no
contexto da sua fé elas descobriram que
a crença numa vida após a morte era, na verdade, uma maneira para que os seus
amigos não se conectassem com a sua dor e, de fato, isso as prejudicou muito nessa circunstância.
Isso equivale a...
É um pouco embaraçoso... É um sinal de que você não tem fé.
O que está fazendo você sofrer realmente?
Se você acha que a pessoa que você mais ama neste mundo
agora está num lugar melhor e você vai voltar a juntar-se a ela num piscar de
olhos... Eu acho que podemos admitir que o ateísmo não oferece um verdadeiro
consolo nesse ponto.
E isso não é uma coincidência.
Quando você está aberto a uma nova evidência, não há
garantia de que as reformulações da sua visão do mundo serão consoladoras.
Quando você perde o Papai Noel, o que você recebe no lugar
dele não é tão divertido.
A imagem dos seus pais estourando o limite do cartão de
crédito e embrulhando presentes no pijama não é tão consoladora como a visão
dos elfos no trenó e das oito renas voadoras.
Quando nós pensamos no que perdemos, quando abandonamos a
religião, não é o feriado, nem a arquitetura, a música, a humildade, a
reverência ou a profundidade. Tudo isso nós podemos manter dentro de uma visão
muito pura da razão, e podemos manter sem mentir para nós mesmos, para os
nossos filhos, para as outras pessoas e seus filhos, acerca da natureza da
realidade.
Aquilo que nós perdemos, para o qual não existe substituto
real, é o pleno consolo em face da morte.
Parece que queremos construir uma ponte para um mundo
racional para que grande parte da humanidade possa cruzá-la.
Nós temos que lidar com esse fato.
A maioria de nós faz todo o possível para não pensar na
morte.
Mas há sempre uma parte da nossa mente que sabe que não
podemos continuar para sempre.
Uma parte de nós sempre sabe que basta estar a um passo de
uma consulta médica ou de um telefonema para lembrarmos nitidamente o fato da
nossa própria mortalidade ou daqueles mais próximos de nós.
Eu tenho certeza que muitos de vocês nesta sala já
experimentaram isso de alguma forma. Vocês devem saber como é estranho de
repente você se retirar da sua rotina normal de vida e ter que se dedicar
integralmente a não morrer ou a cuidar de alguém que esteja morrendo.
Hitch escreveu brilhantemente sobre isso na Vanity Fair. Eu
sugiro que vocês leiam os artigos dele se ainda não leram.
Mas a única coisa que as pessoas tendem a perceber em
momentos como esse é que elas desperdiçaram muito tempo, quando a vida era
normal.
Não é só o que elas fizeram com o tempo delas.
Não é só porque elas passaram muito tempo trabalhando ou
compulsivamente checando e-mails.
É porque elas se preocuparam com as coisas erradas.
Elas se arrependem daquilo com que se preocuparam.
A atenção delas estava presa a preocupações mesquinhas, ano
após ano, quando a vida era normal.
Isso é um paradoxo, naturalmente, porque todos nós sabemos
que essa epifania vai chegar.
Você não sabe que isso vai chegar?
Você não sabe que vai chegar um dia em que você vai adoecer
ou alguém próximo a você vai morrer e você vai olhar para trás, para tudo
aquilo que prendeu sua atenção e vai pensar "O que eu estava fazendo?
".
Você sabe disso, mas você é como a maioria das pessoas e
passa a maior parte da sua vida tacitamente presumindo que viverá para sempre,
assistindo um filme ruim pela quarta vez ou brigando com o seu parceiro.
Essas coisas só fazem sentido à luz da eternidade.
É melhor que haja o céu, se vamos desperdiçar o nosso tempo
assim. [20:14:00]
Nenhum comentário:
Postar um comentário