quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sermão do Ciclo da Vida

Texto atribuído a Bodhidharma 

Traduzido para o português por Shinzen, que ofereceu sua tradução como presente ao Lama Samten na sua ordenação em 14 de dezembro de 1996. 


Tudo que aparece nos três reinos vem da mente (8). Portanto, os budas (9) do passado e do futuro ensinam de mente à mente sem se importarem acerca de definições (10). 


Mas se eles não definem mente, o que eles querem dizer com mente? 


Você pergunta, é a sua mente. Eu respondo, é a minha mente. Se eu não tivesse mente, como eu poderia responder? Se você não tivesse mente, como poderia perguntar? Aquilo que pergunta é a sua mente. Durante kalpas (11) sem começo nem fim, qualquer coisa que você faça, onde quer que você esteja, essa é a sua mente verdadeira, esse é o seu verdadeiro buda. A afirmação essa mente é o buda (12) diz o mesmo. Além dessa mente você nunca encontrará outro buda. Procurar por iluminação (13) ou nirvana (14) além dessa mente é impossível. A realidade de sua natureza própria (15), a ausência de causa e efeito, é o que se chama de mente. Sua mente é nirvana. Você poderia achar um buda ou iluminação em algum lugar além da mente, mas tal lugar não existe. 


Tentar achar um buda ou iluminação é como tentar agarrar o espaço. O espaço tem nome, mas nenhuma forma. Não é algo que você possa pegar ou largar. E você certamente não pode agarrá-lo. Além dessa mente você nunca verá um buda. O buda é um produto de sua mente. Por que procurar um buda além dessa mente? 


Os budas do passado e do futuro falam somente dessa mente. A mente é o buda, e o buda é a mente. Além da mente não há buda, e além de buda não há mente. Se você pensa que há um buda além da mente, onde ele está? Não há buda além da mente, então por que imaginar um? Você não pode conhecer sua mente verdadeira uma vez que você se engane. Uma vez que você seja escravizado por uma forma inanimada você não é livre. Se você não me acreditar, auto-enganar-se não ajudará. Não é falha dos budas. As pessoas estão iludidas. Elas não são conscientes de que suas próprias mentes são o buda. Do contrário, elas não procurariam por um buda fora da mente.

Os budas não salvam budas. Se você utilizar sua mente para procurar um buda, você não verá o buda. Uma vez que você procure por um buda alhures, você nunca verá que sua própria mente é o buda. Não use um buda para adorar um buda. E não use sua mente para invocar um buda (16). Budas não recitam sutras (17). Budas não mantêm preceitos(18). E budas não quebram preceitos. Budas não mantêm ou quebram coisa alguma. Budas não fazem bem ou mal.

Para encontrar um buda você tem que ver sua natureza (19). Quem quer que veja sua natureza é um buda. Se você não vê sua natureza, invocar budas, recitar sutras, fazer oferendas e manter preceitos é inútil. Invocar budas resulta em bom carma, recitar sutras resulta em boa memória, manter preceitos resulta em um bom renascimento e fazer oferendas resulta em futuras bênçãos – mas não em budas.

Se você não entende por si só, você terá que achar um professor para ensiná-lo sobre vida e morte(20). Mas, exceto veja sua natureza, tal pessoa não é um professor. Mesmo que essa pessoa possa recitar o Cânone Desdobrado em Doze(21), ela não pode escapar da Roda de Nascimentos e Mortes(22). Ela sofre nos três reinos sem esperança e liberação.

Há muito tempo atrás, o monge Boa Estrela(23) era capaz de recitar o Cânone completo. Mas ele não escapou da Roda, pois ele não via sua natureza. Se foi isso que aconteceu com Boa Estrela, então as pessoas de agora que recitam alguns sutras ou shastras(24) e pensam que isso é o Dharma são tolas. Exceto você veja sua mente recitar tanta prosa é inútil.

Para achar um buda tudo que você tem que fazer é ver sua natureza. Sua natureza é o buda. E o buda é a pessoa livre: livre de planos, livre de cuidados. Se você não vê sua natureza, e passar o tempo todo procurando noutro lugar, você nunca encontrará um buda. A verdade é: nada há para encontrar. Mas para atingir tal entendimento você precisa lutar para entender. Vida e morte são importantes. Não as sofra em vão. Não há vantagem em auto-enganar-se. Mesmo que você tenha montanhas de jóias e tantos criados quanto os grãos de areia do Ganges, você os vê quando os seus olhos estão abertos. Mas enquanto seus olhos estiverem fechados? Então você deveria perceber que tudo que você vê é como um sonho ou ilusão.

Se você não encontrar um professor logo, você viverá esta vida em vão. É verdade, você tem a natureza búdica. Mas sem a ajuda de um professor você nunca a conhecerá. Somente uma pessoa num milhão ilumina-se sem o auxílio de um professor.

Se, todavia, numa situação afortunada, uma pessoa entende o que Buda quis dizer, essa pessoa não precisa de professor. Tal pessoa tem uma consciência natural superior a todo ensinamento. Mas se você não for tão dotado, estude muito, que através da instrução você entenderá.

As pessoas que não entendem e pensam que podem entender sem estudo não são diferentes daquelas almas iludidas que não podem diferenciar branco do preto(25). Proclamando falsamente o Dharma de Buda, de fato tais pessoas blasfemam Buda e subvertem o Dharma. Elas rezam como se estivessem chamando chuva. Mas suas rezas são dos demônios(26), e não dos budas. Seu professor é o Rei dos Infernos e seus discípulos são os favoritos do demônio. Pessoas iludidas que seguem tais instruções desajeitadamente afundam no Oceano de Nascimento e Morte.

A menos que elas vejam sua natureza, como as pessoas podem dizer-se budas? Elas são mentirosas que enganam outras, fazendo-as entrar no reino dos demônios. A menos que elas vejam sua natureza, seu recitar do Cânone Desdobrado em Doze é nada além do recitar dos demônios. Devotam-se à Mara, não a Buda. Incapazes de distinguir branco de preto, como podem eles escapar de nascimentos e mortes?

Quem quer que veja sua natureza é um buda; quem não vê é mortal. Mas se você pode achar sua natureza búdica separada de sua mente, de sua natureza mortal, onde ela está? Nossa natureza mortal é nossa natureza búdica. Além dessa natureza não há buda. O buda é nossa natureza. Não há buda além dessa natureza. E não há natureza além do buda.

Mas suponha que eu não veja minha natureza, não posso eu atingir a iluminação invocando budas, recitando sutras, fazendo oferendas, observando preceitos, praticando devoção ou fazendo boas ações?

Não, você não pode atingir a iluminação fazendo isso.

Por que não?  

Texto selecionado pela irmã Eliane Zaranza para estudo em Loja realizado em 26 de setembro de 2012.

"Nenhum Teósofo, do menos instruído ao mais culto, deve pretender a infalibilidade no que possa dizer ou escrever sobre questões ocultas" (Helena P. Blavatsky, DS, I, pg. 208). A esse propósito, o Conselho Mundial da Sociedade Teosófica é incisivo: "Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H.P. Blavatsky tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha" (Trecho da Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23.12.1924 e modificada em 25.12.1996.

3 comentários:

CULT CARIOCA disse...

PERFEITO GOSTEI MTO!

Anônimo disse...

Obrigado por sua participação em nosso Blog.

ASSOCIAÇAO COMUNIDADE LOTUS-TEOSOFIA disse...

MUITO BACANA! PARABENS A LOJA JINA...PELAS RICAS PROGRAMAÇOES..ABS A TODOS..